Newsletter Novembro 2024

Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações

Olá! Trazemos-te a penúltima newsletter de 2024. Entre cheias, secas e um mês anormalmente quente, chegam-nos notícias de falsas promessas das petrolíferas, uma COP que serve para negociar mais exploração fóssil e relatórios alarmantes sobre as condições de vida na terra. Continuamos juntos a traçar a linha vermelha no 1,5ºC.

Até breve,
Carolina e João

Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.

Em 50 anos houve um declínio de 73% da vida selvagem

O relatório “Living Planet Report” de 2024, divulgado pela WWF, revela um alarmante declínio de 73% no tamanho das populações de vida selvagem monitoradas nos últimos 50 anos. As regiões mais afetadas incluem a América Latina e o Caribe, com uma queda de 95%, seguidas por África (-76%) e Ásia-Pacífico (-60%).

O relatório destaca que a perda de habitat, impulsionada principalmente pelo sistema alimentar, é a maior ameaça às populações de vida selvagem, além do excesso de exploração, espécies invasoras e alterações climáticas.

As quedas nas populações de vida selvagem servem como um indicador precoce do aumento do risco de extinção e da possível perda de ecossistemas saudáveis. O relatório alerta que as decisões e ações nos próximos cinco anos serão cruciais para o futuro da vida na Terra, e que é necessário um esforço coletivo para enfrentar as crises climática e de natureza.

Embora existam exemplos de recuperação de algumas espécies devido a esforços de conservação, como os gorilas da montanha e os bisões europeus, os avanços são insuficientes. A WWF pede que os países aumentem suas ambições em planos nacionais de natureza e clima, reduzindo o consumo excessivo e cortando emissões.

WWF, Outubro de 2024

Relatório: 25 dos 35 sinais vitais do planeta estão em níveis recorde, cinco a mais que em 2023

No “Relatório sobre o estado do clima de 2024: tempos perigosos no planeta Terra”, publicado na revista BioScience, a equipa, coordenada por William Ripple, professor na Universidade Estadual do Oregon, e pelo investigador Christopher Wolf, identifica cinco áreas que necessitam de mudanças políticas urgentes: energia, poluentes, natureza, alimentação e economia.

Entre os dados mais alarmantes estão os três dias mais quentes de sempre, registados em julho de 2024, no verão mais quente de sempre, e o aumento das emissões de combustíveis fósseis para níveis sem precedentes.

O consumo anual de combustíveis fósseis aumentou 1,5% em 2023, principalmente devido ao aumento da utilização de carvão (1,6%) e de petróleo (2,5%). Por sua vez, a utilização de energias renováveis ​​também aumentou em 2023 – o consumo conjunto de energia solar e eólica aumentou 15% em relação a 2022. Mas a utilização de energias renováveis ​​representa apenas 1/14 da utilização de combustíveis fósseis.

O relatório mostra que a perda anual de cobertura florestal aumentou globalmente de 22,8 milhões de hectares em 2022 para 28,3 milhões em 2023.

The Guardian, 08/10/2024

Europa leva lobistas do gás à COP29 para fechar acordos

Um novo relatório da “Kick Polluters Out Coalition” revela que os governos da UE levaram 113 lobistas do setor de combustíveis fósseis para a COP29, realizada em Baku.

Esses lobistas fazem parte das delegações oficiais de países como Grécia, Itália, Suécia e Bélgica. A análise mostra que Grécia e Itália lideraram com as maiores delegações, trazendo 24 e 22 lobistas, respectivamente, a maioria deles de empresas de gás, refletindo seu papel como os maiores compradores de gás do Azerbaijão.

Além disso, a Suécia trouxe 17 lobistas, enquanto a Bélgica trouxe 13. Embora o presidente francês Macron tenha decidido não comparecer, a TotalEnergies, maior produtora de petróleo e gás da França, enviou seis lobistas, incluindo seu CEO, que foi convidado pelos anfitriões. A Itália, por sua vez, utilizou a COP29 para firmar acordos de gás, como um pacto estratégico com a SOCAR, a companhia nacional de petróleo do Azerbaijão.

Apesar da COP deste ano ser 50% menor em termos de participantes, a proporção de lobistas de combustíveis fósseis aumentou, levantando preocupações sobre a influência do setor nas negociações climáticas.

Fossil Free Politics, 18/11/2024

As árvores e os solos não absorveram quase nenhum CO2 no ano passado.

Pesquisas indicam que em 2023, o ano mais quente já registado, a quantidade de carbono absorvida pela terra caiu drasticamente, com florestas, plantas e solos a absorverem quase nenhum carbono. Além disso, o degelo na Gronelândia e nas camadas de gelo do Ártico está a afetar a corrente do Golfo, reduzindo a capacidade dos oceanos de absorver carbono.

A capacidade da natureza de absorver carbono é crucial para alcançar as metas de emissões líquidas zero, especialmente num cenário onde as emissões humanas atingiram um recorde de 37,4 bilhões de toneladas em 2023.

Os modelos climáticos atuais não prevêem o colapso rápido dos sumidouros naturais, o que pode levar a um aquecimento global mais acelerado do que o previsto.

The Guardian, 14/10/2024

A petrolífera BP abandona a meta de cortar produção de petróleo e redefine estratégia

A BP abandonou a sua meta de reduzir a produção de petróleo e gás até 2030. Originalmente, a BP havia prometido uma redução de 40% na produção até 2030, mas esse alvo foi reduzido para 25% em fevereiro do ano passado. Agora, a empresa está a focar-se em novos investimentos no Médio Oriente e no Golfo do México para aumentar a sua produção de petróleo e gás.

Atualmente, a BP está em negociações para investir em novos projetos no Iraque e no Golfo do México, além de considerar a reabertura de campos petrolíferos no Kuwait. A empresa também planeia explorar grandes reservas de combustíveis fósseis e expandir as suas operações no campo de xisto “Permian” nos EUA.

Reuters, 07/10/2024

Crise hídrica global deixa metade da produção mundial de alimentos em risco nos próximos 25 anos

Um relatório da Global Commission on the Economics of Water alerta que mais da metade da produção de alimentos do mundo estará em risco nas próximas duas décadas devido à crise hídrica acelerada.

Atualmente, metade da população global já enfrenta escassez de água, e essa situação deve piorar com a crise climática. A procura por água doce deve superar a oferta em 40% até o final da década, uma vez que os sistemas hídricos do planeta estão sob stresse sem precedentes.

Além disso, o relatório aponta que a crise hídrica é exacerbada pela degradação ambiental e por subsídios públicos que incentivam o uso excessivo de água na agricultura e na indústria.

The Guardian, 17/10/2024

África

As Nações Unidas reportam que as enchentes no Sudão do Sul deslocaram mais de 379.000 pessoas e alertam para um aumento dos casos de malária.

América

Mais de 290.000 casas e empresas ficaram sem energia na tarde de quarta-feira em Washington, EUA, e pelo menos duas pessoas perderam a vida, depois de um “bomb cyclone” ter atingido a região. A Califórnia foi fustigada por ventos fortes que alimentaram um incêndio florestal destruindo dezenas de casas e forçando milhares de moradores a fugir.

Equador anunciou um aumento nos cortes diários de energia em resultado da seca severa que afeta o país. A seca tem reduzindo os níveis de água das principais usinas hidrelétricas, a fonte de mais de 70% da eletricidade do país.

Ásia

Pelo menos 16 pessoas morreram em Sumatra, na Indonésia, na sequência de enchentes repentinas e um deslizamento de terras. A Indonésia tem sido impactada por cerca de 20 grandes tempestades por ano e estudos revelam que estas se têm vindo a prolongar e intensificar devido às alterações climáticas.

Europa

Cidades no sudoeste de França registaram na última semana um calor “completamente extremo” para o mês de novembro com temperaturas noturnas a atingir 26,9°C. Já no Reino Unido, na última semana, multiplicaram-se os avisos e impactos devastadores de chuvas e ventos intensos, cheias e inundações.

Em Portugal, a meio do mês, chuvas fortes provocaram inundações em vários locais, em especial no Baixo Alentejo e no Algarve, onde houve centenas de ocorrências, estradas cortadas, o descarrilamento de um comboio e 3 pessoas tiveram de ser resgatadas. Em Espanha, novas cheias atingiram a região de Girona, no nordeste do país, arrastando cerca de 30 carros na cidade de Cadaqués.

A ajuda externa para projetos de combustíveis fósseis quadruplicou num único ano

Um relatório recente revelou que a ajuda externa para projetos de combustíveis fósseis quadruplicou num único ano, passando de 1,2 bilhões de dólares em 2021 para 5,4 bilhões de dólares em 2022.

O relatório identificou os cinco principais financiadores de projetos de combustíveis fósseis entre 2018 e 2022, incluindo o Banco Islâmico de Desenvolvimento e a Agência de Cooperação Internacional do Japão. Apesar das promessas feitas por países do G20 e do G7 para eliminar subsídios ineficientes a combustíveis fósseis, os dados mostram que a realidade é diferente, com investimentos ainda direcionados a projetos que poderiam ser substituídos por alternativas renováveis.

O Clean Air Fund (autores do relatório) pediu que não negligenciem a qualidade do ar, uma vez que a poluição do ar causa a morte de 4 milhões de pessoas anualmente, mas apenas 1% da ajuda externa é direcionada a projetos de ar limpo.

The Guardian, 10/10/2024

Poluição atmosférica de combustíveis fósseis é responsável por 1 em cada 5 mortes em todo o mundo

Uma nova pesquisa da Universidade de Harvard, em colaboração com outras instituições, revelou que mais de 8 milhões de pessoas morreram em 2018 devido à poluição causada por combustíveis fósseis, um número significativamente maior do que estudos anteriores sugeriam. Isto significa que a poluição do ar resultante da queima de combustíveis fósseis foi responsável por cerca de 1 em cada 5 mortes em todo o mundo.

O estudo, publicado na revista Environmental Research, analisou a mortalidade prematura atribuída à poluição por partículas finas (PM 2.5) gerada pela combustão de combustíveis fósseis.

Os resultados mostram que os ganhos em saúde ao abandonar os combustíveis fósseis são muito maiores do que se pensava anteriormente.

A pesquisa também revelou que, em 2018, a poluição por combustíveis fósseis causou quase 2,5 milhões de mortes na Índia, representando mais de 30% das mortes totais entre pessoas com mais de 14 anos.

Harvard, 02/09/2024

Multimilionários produzem mais carbono em 90 minutos do que pessoa média numa vida

Os 50 mais ricos do mundo produzem, em média, mais carbono através dos investimentos, jatos privados e iates, em hora e meia, do que uma pessoa média produz toda a vida, conclui um relatório da organização Oxfam.

Quase 40 por cento dos investimentos bilionários analisados no estudo referem-se a indústrias altamente poluentes, como petróleo, mineração, transporte marítimo e cimento.

As emissões totais de investimento de 36 dos multimilionários mais ricos da União Europeia são equivalentes às emissões anuais de mais de 4,5 milhões de europeus, conclui a organização.

Dois jatos particulares de Jeff Bezos passaram quase 25 dias no ar durante um período de 12 meses e emitiram tanto carbono quanto um funcionário médio da Amazon nos EUA emitiria em 207 anos.

OXFAM, 28/10/2024

Os três países organizadores das COP’s do clima, em 2023, 2024 e 2025 planeiam aumentar a sua produção de combustíveis fósseis em 32% até 2035

Uma nova pesquisa revela que os países da “COP Troika” – Brasil, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Azerbaijão – planeiam aumentar a produção de petróleo e gás em 32% até 2035, o que compromete o limite de 1,5°C que deveriam defender como presidências da COP.

Os dados mostram que estes três países representam quase um terço da poluição de carbono proveniente de novos campos de petróleo e gás aprovados em 2024. Os EAU  ocupam a primeira posição global em aprovações de expansão de petróleo e gás desde dezembro de 2023, com um novo campo projetado para operar até 2100. O Brasil é o terceiro nesse ranking.

Oil Change, 30/10/2024

Como o Azerbeijão utiliza o greenwashing para esconder um genocídio

Um relatório dos Gastivists, revela como um projeto de energia renovável na região de Nagorno-Karabakh está a ser utilizado para encobrir a recente limpeza étnica dos arménios por parte do Azerbaijão.

Este ano, o Azerbaijão sediou a COP29, após a COP28 nos Emirados Árabes Unidos e a COP27 no Egito, assinalando a primeira vez que um país recebe a presidência da conferência climática da ONU como parte de um acordo de cessar-fogo.

Após a agressão militar do Azerbaijão e a alegada limpeza étnica de mais de 100.000 pessoas, a Arménia finalmente retirou o seu veto à presidência do Azerbaijão na COP29 em dezembro de 2023, como parte de uma troca de prisioneiros.

O regime totalitário de Ilham Aliyev tomou o controlo da região de Nagorno-Karabakh em setembro de 2023, após um cerco que deixou a população civil à beira de uma crise humanitária. Agora, a região, sem a sua população civil, foi declarada uma “Zona de Energia Verde”, com planos do Azerbaijão para transformá-la num centro de energia renovável, incluindo projetos de energia solar e eólica, em parceria com a BP.

Atraindo investidores internacionais para os territórios disputados, o Azerbaijão procura legitimar sua posição na região, normalizando a forma como esses territórios foram tomados.

Gastivists, Outubro de 2024

Novo relatório mostra como o aquecimento global intensificou os 10 desastres climáticos mais mortais desde 2004

Desde 2004, os dez desastres climáticos mais mortais, incluindo ciclones tropicais, ondas de calor, inundações e secas, resultaram na morte de pelo menos 570.000 pessoas, com um novo estudo a indicar que todos esses eventos foram intensificados pelo aquecimento global, causado pela queima de petróleo, gás e carvão, além do desmatamento.

O estudo enfatiza que o número total de mortes é uma subestimação significativa, especialmente em países mais pobres, onde muitas mortes relacionadas ao calor não são oficialmente registadas.

O evento climático mais mortal registado foi uma seca na Somália em 2011, que matou pelo menos 258.000 pessoas, e o estudo concluiu que o aquecimento global intensificou essa seca.

O ciclone Nargis, que matou mais de 138.000 pessoas em Mianmar em 2008, teve sua intensidade de vento aumentada em 18% devido ao aquecimento global. A onda de calor na Europa em 2023, que causou mais de 37.000 mortes, teve temperaturas regionais que seriam impossíveis sem o aquecimento global.

O estudo mostra como o aquecimento intensifica a precipitação de ciclones tropicais e mede o efeito da temperatura da superfície do mar na velocidade do vento e na intensidade potencial das tempestades. Embora algumas mudanças possam parecer pequenas, como um aumento de 7% na precipitação, essas variações podem ter impactos significativos, como a diferença entre a ruptura ou não de uma barragem.

Inside Climate News, 31/10/2024

Reportagem“All Hail The Planet” – Reportagem sobre alterações climáticas com entrevistas, vídeos e gráficos que ajudam a compreender a crise climática

VídeoA era da estupidez / The age of stupid – O vídeo é um híbrido de drama-documentário-animação que retrata como um homem que vive sozinho no mundo devastado de 2055, vê imagens de arquivo a partir de 2008

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