Ativistas Climáticos condenadas a prisão efetiva por atirarem sopa ao vidro que protegia um quadro de Van Gogh
Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações
Olá! Trazemos-te mais um resumo de notícias, relatórios e eventos extremos das últimas semanas. Nos tempos difíceis que vivemos, reunimos e partilhamos informação fidedigna para que não olhemos para o lado enquanto os desastres acontecem e nos possamos organizar na construção do futuro justo que sabemos possível.
A(s) luta(s) continua(m).
Até breve,
Carolina e João
Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências
Notícias
Haia torna-se a primeira cidade do mundo a aprovar lei que proíbe anúncios relacionados com combustíveis fósseis
A cidade de Haia, na Holanda, fez história ao tornar-se a primeira cidade do mundo a aprovar uma lei que proíbe a publicidade de produtos e serviços relacionados com combustíveis fósseis.
A proibição abrange produtos e serviços com alta pegada de carbono, mas não se aplica a anúncios políticos da indústria de combustíveis fósseis ou à promoção de marcas em geral.
A legislação, que entrará em vigor no início de 2025, proíbe anúncios de gasolina, diesel, aviação e cruzeiros em espaços públicos, como outdoors e paragens de autocarros. Esta iniciativa surge em resposta a um apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu a governos e meios de comunicação que implementassem tais proibições, semelhante ao que foi feito com a publicidade de tabaco.
A aprovação da lei foi um processo de dois anos e é vista como um passo no combate à crise climática. Especialistas acreditam que a legislação de Haia pode inspirar outras cidades do mundo do mundo a seguir o exemplo, com propostas semelhantes a surgir já em Toronto e Graz.
Amazon, Tesla e Meta entre as principais empresas do mundo que minam a democracia – relatório
Um relatório recente da Confederação Internacional dos Sindicatos (ITUC) acusa algumas das maiores empresas do mundo, como Amazon, Tesla e Meta, de minar a democracia global.
Estas multinacionais são acusadas de financiar movimentos políticos de extrema direita, agravar a crise climática e violar direitos dos trabalhadores e humanos. O relatório destaca a influência destas empresas na formulação de políticas globais, especialmente durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Futuro, que ocorreu em setembro.
A Amazon, por exemplo, é criticada por suas práticas de baixos salários e emissões de carbono elevadas.
A Tesla também é citada pela sua oposição a sindicatos e violações de direitos humanos nas suas cadeias de produção, enquanto a Meta é responsabilizada por permitir a difusão de propaganda de extrema direita nas suas plataformas.
Além disso, empresas como Blackstone e ExxonMobil são mencionadas por financiar movimentos políticos de direita e lobby contra regulamentações ambientais.
A ITUC, que representa 191 milhões de trabalhadores em 169 países.
Relatório afirma que “a Terra pode ter atingido sete dos nove limites planetários”
Um novo relatório do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK) revela que a Terra pode ter ultrapassado sete dos nove limites planetários críticos que sustentam a vida no planeta. Os cientistas alertam que a acidificação dos oceanos está a aproximar-se de um limiar crítico, especialmente em regiões de altas latitudes, o que representa uma ameaça crescente para os ecossistemas marinhos.
Levke Caesar, coautora do relatório, enfatiza que a acidificação dos oceanos, resultante da absorção de CO2 atmosférico, não prejudica apenas organismos calcários, mas também compromete a eficiência dos oceanos como sumidouros de carbono.
A pesquisa sugere que as condições atuais podem já ser problemáticas para várias espécies marinhas, indicando a necessidade de reavaliar os níveis considerados seguros.
O relatório também ressalta a interconexão entre todos os nove limites planetários, afirmando que as perturbações ambientais não podem ser tratadas como questões isoladas, pois as mudanças numa área afetam as outras.
Em quatro décadas, a floresta amazónica perdeu uma área do tamanho da Alemanha e da França
A Amazónia perdeu uma área equivalente ao tamanho da Alemanha e da França combinadas devido ao desmatamento nas últimas quatro décadas, o que tem contribuído para a seca e incêndios florestais recordes em toda a América do Sul.
Especialistas alertam que, embora a floresta tropical seja crucial na luta contra as mudanças climáticas por sua capacidade de absorver dióxido de carbono, os incêndios deste ano libertaram grandes quantidades desse gás na atmosfera.
O desmatamento, impulsionado principalmente pela mineração e pela agricultura, resultou na transformação de ecossistemas em vastas áreas de pastagens e monoculturas, como campos de soja.
O serviço Copernicus relatou que os incêndios na Amazónia e no Pantanal são os piores em quase duas décadas.
Direção da Faculdade de Economia do Porto (FEP) pede investigação sobre isenção de IMI a barragens da EDP
Óscar Afonso, diretor da FEP, solicitou o afastamento da diretora-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) após a isenção de IMI concedida a duas barragens da EDP em Miranda do Douro.
Afonso argumenta que a decisão de isentar essas barragens do pagamento de impostos, após reuniões entre a EDP e a AT entre 2016 e 2017, levanta “graves indícios de favorecimento”.
Ele destaca que, apesar de um despacho do secretário de Estado que determinava a cobrança de impostos, essa diretriz não está a ser cumprida, o que gera uma falta de confiança nas instituições.
O diretor da FEP, que também é fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, pediu ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas que investiguem a relação entre a AT, a Agência Portuguesa do Ambiente, a EDP e seus advogados, considerando a situação como uma questão de grande relevância para a transparência e a justiça fiscal.
Ativistas Climáticos condenadas a prisão efectiva por atirarem sopa ao vidro que protegia um quadro de Van Gogh
Duas ativistas climáticas, Phoebe Plummer, de 23 anos, e Anna Holland, de 22, foram condenadas a penas de prisão de dois anos e 20 meses, respectivamente, por terem atirado sopa ao vidro que protegia a famosa pintura “Girassóis” de Vincent Van Gogh, no National Gallery de Londres em 2022.
O juiz Christopher Hehir, ao proferir a sentença, destacou que a ação poderia ter causado danos irreparáveis à pintura, que estava protegida por um vidro, mas cujo quadro sofreu danos menores.
Após a sentença, novos protestos ocorreram no National Gallery, onde outros ativistas do Just Stop Oil atiraram sopa a outra pintura de “Girassóis”.
As ativistas, ao serem levadas para a prisão, expressaram sua convicção de que suas ações são justificadas em nome da luta por um planeta habitável.
Eventos Extremos
América
O furacão Milton atingiu comunidades costeiras nos EUA apenas duas semanas após o furacão Helene. Cientistas alertam que ambas as tempestades ficaram mais fortes e com chuvas mais intensas devido à crise climática e ao aquecimento anormal do Golfo do México.
O nível de água do Rio Negro, no Brasil, caiu muito abaixo dos níveis normais como consequência de uma estação seca excecionalmente intensa.
Europa
Inundações repentinas e deslizamentos de terra atingem partes da Bósnia, matando pelo menos 16 pessoas e ferindo dezenas de outras.
A passagem da tempestade Kirk por Portugal, no início de outubro, incidiu especialmente no Norte do país deixando 300 mil pessoas sem luz, fechando escolas e causando vários estragos materiais.
Um ano de chuva em oito horas matou pelo menos 104 pessoas em Espanha, havendo ainda dezenas de pessoas desaparecidas. A comunidade valenciana foi a região mais afetada.
África
Lesoto, Malawi, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue declararam estado de desastre nacional nos últimos meses, devido à seca extrema que tem afetado o sul de África.
Angola e Moçambique também estão a ser severamente afetados. O World Food Program estima que mais de 27 milhões de pessoas estejam em risco devido à seca na região.
Ásia
Dezenas de pessoas perderam a vida em inundações e deslizamentos de terras após a tempestade tropical Trami atingir as Filipinas. Nalgumas áreas choveu o equivalente a um a dois meses de chuva em 24 horas, sobrecarregando os controles de enchentes.
Escolas, faculdades, escritórios governamentais e centros de IT fecharam em partes do sul da Índia devido às fortes chuvas de monções e a inundações severas.
Estudos Científicos e Relatórios
Relatório revela como as consultorias facilitaram violações de Direitos Humanos nos projetos de gás em Moçambique
Um novo relatório da Justiça Ambiental analisa criticamente o papel das empresas de consultoria e prestadores de serviços de investimento na facilitação de violações de direitos humanos, com foco na indústria do gás em Cabo Delgado, Moçambique. O documento destaca como, ao longo de décadas, as empresas de combustíveis fósseis têm financiado grupos de pressão para desacreditar a ciência climática e atrasar ações contra a crise ecológica.
O relatório aponta que as avaliações de sustentabilidade frequentemente se baseiam em dados fornecidos pelas próprias empresas, resultando numa análise superficial das preocupações sociais e ambientais. As metodologias utilizadas nas avaliações tendem a subestimar os impactos sociais e ecológicos dos projetos de gás, ignorando a relação entre a exploração de gás e a insurreição em Cabo Delgado, além de minimizar os efeitos sobre a biodiversidade e as emissões de gases de efeito estufa.
A falta de experiência dos prestadores de serviços em contextos africanos, especialmente em Moçambique, agrava ainda mais a situação. A falta de rigor nas normas de certificação permite que as empresas ajustem os critérios às suas necessidades, em vez de serem responsabilizadas. O documento conclui que a consultoria atual falha em informar adequadamente os investidores sobre as implicações dos projetos de gás em Moçambique, perpetuando um ciclo de injustiça.
Relatório: Bayer, um legado tóxico
Um relatório do Corporate Europe Observatory investiga a história controversa e as práticas atuais da Bayer, uma das principais empresas agroquímicas e farmacêuticas do mundo. O documento destaca os esforços de lobby da Bayer para influenciar políticas públicas em favor dos seus interesses, especialmente em relação ao glifosato, organismos geneticamente modificados (OGMs) e seu controle monopolista sobre os mercados de sementes e pesticidas.
A Bayer enfrenta mais de 170.000 processos legais, alguns deles relacionados com o seu pesticida Roundup, que é associado ao cancro.
O modelo de negócios da Bayer depende da manutenção de uma posição dominante no setor agrícola, o que levanta preocupações sobre a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental. O relatório observa que os gastos com lobby da Bayer atingiram níveis sem precedentes.
A empresa tem sido acusada de manipular o discurso público e influenciar regulamentações através de relacionamentos estratégicos com políticos e a imprensa.
Corporate Europe Observatory, 23/09/2024
1% dos mais ricos detêm mais riqueza do que 95% da humanidade – Oxfam
O relatório da OXFAM, intitulado “Multilateralismo numa era de Oligarquia Global: como a desigualdade extrema mina a cooperação internacional” refere que os multimilionários exercem agora “novos níveis de controlo sobre a economia”, vivendo-se um “movimento em direção a uma oligarquia global”.
Simplificando as percentagens em números: 82 milhões de pessoas têm mais riqueza do que cerca de 7 200 mil milhões de pessoas.
O relatório destaca alguns factos, como por exemplo, haverem apenas duas empresas que controlam 40% do mercado global de sementes e também, por outro lado, apesar de, no Sul Global, viverem 79% da população mundial, apenas detém 31% da riqueza global.
Outro dado relevante relacionado com os países do Sul Global, é que estes países estão a ser obrigados a gastar perto de
40% dos seus orçamentos anuais a pagar dívida, mais 60% do que
gastam em educação, saúde e Segurança Social combinados. Mais de metade
desta dívida é detida por bancos e fundos de investimento, muitos considerados fundos abutre.
“Céus em chamas: o preço oculto das chamas tóxicas das grandes petrolíferas” – relatório
Uma investigação chamada “Burning Skies”, realizada pelo Environmental Investigative Forum (EIF) revela que grandes empresas de petróleo da Europa Ocidental, como a BP, ENI, TotalEnergies e Shell, estão entre os dez maiores poluidores da África e do Médio Oriente em relação à queima de gás (flaring).
Essa prática, que consiste em queimar gás fóssil excedente de campos de hidrocarbonetos, terminais e refinarias, gera emissões significativas de gases de efeito estufa, contribuindo para as alterações climáticas e causando danos à saúde e ao meio ambiente.
De acordo com o relatório, as emissões de flaring em todo o mundo atingiram 381 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2023, representando 1% das emissões globais. A investigação atribui cerca de 1,37 bilhão de toneladas de CO2e emitidas entre 2012 e 2022 a empresas de petróleo, com as companhias europeias responsáveis por 33% dessas emissões. A Sonatrach, empresa estatal argelina, é identificada como a maior poluidora, emitindo 235 milhões de toneladas de CO2e no mesmo período.
Apesar das promessas de governos e empresas de petróleo, a luta contra o flaring tem sido ineficaz, com um aumento de 7% nas emissões em 2023 em comparação ao ano anterior.
EIForum, 27/09/2024
Mais de 90% do desflorestamento na Amazónia brasileira foi para abertura de pastagem
A abertura de pastagens, entre 1985 e 2023, motivou 90% do desflorestamento registado da Amazónia brasileira, que perdeu 14% de vegetação nativa em 39 anos, segundo imagens de satélite analisadas num estudo divulgado ontem pelo MapBiomas.
Nesse período, o crescimento da área de pastagem na Amazónia brasileira foi de mais de 363%, passando de aproximadamente 12,7 milhões de hectares para 59 milhões de hectares – uma expansão de 46,3 milhões de hectares em pouco menos de quatro décadas. Como resultado, em 2023, cerca de 14% da Amazónia brasileira são pastos.
As pastagens avançaram também sobre as áreas húmidas da maior floresta tropical do planeta, que perderam 3,7 milhões de hectares (5,65%) entre 1985 e 2023.
A quase totalidade (97%) da área agrícola mapeada na Amazónia brasileira foi usada para plantações temporárias, com predomínio da soja, que responde por 80,5% do total.
A área de cana-de-açúcar aumentou progressivamente, passando de 192 hectares em 1985 para mais de 90 mil hectares em 2023, ou 1,23% do total da área agrícola no bioma.
Os rios do mundo secam ao ritmo mais rápido em 30 anos
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), no seu relatório “state of global water resources”, indica que em 2023, os rios secaram à maior taxa em três décadas, colocando em risco o abastecimento de água em todo o mundo.
O relatório também destacou que, embora 2023 tenha sido o ano mais quente já registado, trazendo secas severas, também ocorreram inundações devastadoras em várias partes do mundo.
Regiões como a costa leste da África, Nova Zelândia e Filipinas enfrentaram inundações, enquanto países como o Reino Unido e a Suécia experimentaram um fluxo de água acima do normal.
Atualmente, 3,6 mil milhões de pessoas enfrentam acesso inadequado à água por pelo menos um mês ao ano, e esse número pode ultrapassar 5 mil milhões até 2050.
Além disso, os glaciares perderam mais de 600 gigatoneladas de água, a maior perda em 50 anos, com as montanhas na América do Norte e nos Alpes Europeus a enfrentarem derretimento extremo.
Organização Meteorológica Mundial, 07/10/2024
Recomendações
Artigo – Todos devem ser decapitados – Artigo/reportagem do Político, em Inglês e Francês, sobre os crimes da Total Energies, em Moçambique e a cumplicidade com os militares.
Vídeo – Migração impulsionada pelas alterações climáticas na Tailândia – Entrevistas com comunidades rurais na Tailândia, para saber mais sobre as suas percepções sobre as alterações climáticas e a migração