Newsletter Maio 2024

Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações

Olá! 

Hoje queremos destacar os resultados de um inquérito feito pelo The Guardian a cientistas que integram o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas). Quase 80% dos inquiridos dizem acreditar que atingiremos 2,5ºC de aquecimento, quase metade acreditam que este aumento será de 3ºC e apenas 6% preveem a possibilidade de mantermos o aquecimento abaixo de 1,5ºC. Sabemos que cada grau de aumento se traduz em eventos extremos cada vez mais graves e que as políticas mundiais estão a ser insuficientes para cumprir as metas definidas.

O tempo de agir é agora.
Até breve,
João e Carolina

Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.

Abril de 2024 foi o mês de abril mais quente de sempre

O mês de Abril de 2024 foi o mais quente já registado com uma temperatura média global de 15.03 °C, 0.67 °C acima do valor médio 1991-2020.

Este é o décimo primeiro mês consecutivo mais quente já registado para o respetivo mês do ano.

Coopérnicus, 07/05/2024

Com tantos painéis solares instalados, na Califórnia, os preços da eletricidade são negativos em dias de muito sol

A Califórnia enfrenta uma abundância de energia solar, o que está a levar a que os preços da eletricidade sejam negativos em dias ensolarados de primavera e ao desperdício de gigawatts de energia solar.

Como resposta, o estado reduziu incentivos para instalar energia solar em telhados e desacelerou a instalação de painéis.

Washington post, 22/04/2024

As comissões de comércio e energia do Parlamento Europeu votaram a favor da retirada da UE do Tratado da Carta da Energia (TCE)

O TCE é um tratado internacional assinado por 50 países. Foi criado em 1994 e é um acordo de investimento envolvendo vários países europeus e da Ásia central.

Em Portugal, a “Plataforma Troca” andou a lutar contra este tratado. Espreita aqui o que eles investigaram sobre o TCE. 

Euroactiv, 09/04/2024

Em abril, as energias renováveis foram responsáveis por 94,9% da eletricidade gerada em Portugal

Há 46 anos que a produção de energias renováveis não tinha tanto peso no abastecimento do consumo de energia elétrica em Portugal. Em abril, as renováveis foram responsáveis pelo abastecimento de 94,9% do consumo, aproximando-se dos 95,4% atingidos em maio de 1978, avança a REN em comunicado.

Nos primeiros quatro meses do ano, a produção renovável abasteceu 90% do consumo de energia elétrica, repartida pela hidroelétrica com 48%, eólica com 30%, fotovoltaica com 7% e biomassa com 6%. A produção a gás natural abasteceu 9% do consumo.

Greensavers, 02/05/2024

Petrolífera Total é alvo de queixa-crime por ataque em Moçambique

O grupo petrolífero francês é acusado de “homicídio involuntário e omissão de socorro” por sete sobreviventes e familiares de vítimas de um ataque em Cabo Delgado, em março de 2021.

A Total é acusada de uma série de atos de negligência e de não garantir a segurança dos seus subcontratados, disse à AFP o advogado dos queixosos, Henri Thulliez.

Os queixosos, três sobreviventes e quatro herdeiros de duas vítimas, têm nacionalidade sul-africana e britânica.

The conversation, 03/04/2024

O Supremo Tribunal da Índia expandiu o direito à vida para incluir “efeitos adversos das alterações climáticas” numa decisão histórica

O Supremo Tribunal da Índia alargou o âmbito do “direito à vida” para incluir a “proteção contra os efeitos adversos das alterações climáticas”.

A decisão reconhece que as alterações climáticas ameaçam as “garantias constitucionais de igualdade e saúde”, impactando fatores como a poluição atmosférica, as doenças e a segurança alimentar.

A Índia é um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, apesar de não ser dos principais responsáveis históricos pelas emissões de gases com efeito de estufa.

Independent, 08/04/2024

Ásia

No fim de semana de 18 e 19 de maio registou-se uma temperatura de 47,8ºC em Deli, na Índia, que atravessa uma onda de calor.

Na Indonésia, 28 pessoas morreram devido a cheias e uma corrente de lava fria provocada por chuvas intensas que atingiram o vulcão do Monte Marapi.

No Afeganistão, pelo menos 300 pessoas perderam a vida em cheias (flash floods) no início de maio. Este foi mais um episódio devastador numa série de cheias provocadas por chuvas intensas que têm afetado o Afeganistão nos últimos meses.

África

O Quénia continua a sofrer com as consequências das cheias devastadoras que assolaram o país nos últimos meses. Há mais de 293.000 pessoas deslocadas e pelo menos 257 mortes, com algumas pessoas ainda soterradas.

América

Registaram-se cerca de 20 tornados na zona centro-oeste dos Estados Unidos causando 5 mortes e 35 pessoas feridas. Mais de 40.000 edifícios ficaram sem eletricidade nesta região. Alguns dias antes, em Houston, mais de 900.000 edifícios tiveram também a eletricidade cortada devido a fortes tempestades que vitimaram 4 pessoas.

Milhares de residentes da cidade de Alberta, no Canadá, tiveram de ser evacuados devido a incêndios na região.

No Haiti, 17 pessoas morreram e mais de 4000 casas ficaram submersas em cheias provocadas por chuvas intensas.

Cheias devastadoras atingiram o estado brasileiro do Rio Grande do Sul, afetando mais de 2 milhões de pessoas, desalojando mais de 500.000 e provocando mais de 150 mortes. Em Porto Alegre a água atingiu os 5,36 metros de altura ultrapassando o pico histórico registado nas cheias de 1941.

Os países do G20 financiaram em pelo menos 47 mil milhões de dólares por ano em petróleo, gás e carvão entre 2020 e 2022

Um novo relatório intitulado “Inimigos Públicos” que avaliou o financiamento de energia das instituições financeiras internacionais do G20 e dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs), identificou pelo menos 47 mil milhões de dólares por ano em investimentos em combustíveis fósseis, sendo o Canadá, a Coreia e o Japão os principais infratores.

O apoio ao gás fóssil ainda representa a maior parte do financiamento, com 54% dos fundos conhecidos a ir para projetos de gás fóssil e 32% para projetos mistos de petróleo e gás. O Banco Mundial lidera o financiamento direto entre os MDBs, com uma média anual de 1,2 mil milhões de dólares, dos quais 68% foram para gás fóssil.

O relatório também aponta que o financiamento para energias renováveis ainda é insuficiente e não está a ser direcionado para os países que mais precisam, com apenas 3% do financiamento a ir para estes países, entre 2020 e 2022.

Oil Change International, 09/04/2024

Em 2023 as temperaturas na Europa estiveram acima da média durante 11 meses do ano, incluindo o Setembro mais quente de que há registo

O relatório “European State of the Climate” revela várias informações acerca da crise climática na Europa: 

– 2023 viu um número recorde de dias com calor extremo

– A mortalidade relacionada com o calor aumentou cerca de 30% nos últimos 20 anos e estima-se que as mortes relacionadas com o calor tenham aumentado em 94% das regiões europeias monitorizadas

– No conjunto do ano, a temperatura média da superfície do mar em toda a Europa foi a mais elevada alguma vez registada

– Em junho, o Oceano Atlântico a oeste da Irlanda e em torno do Reino Unido foi afetado por uma onda de calor marinha que foi classificada como “extrema” e, em algumas áreas, “além do extremo”, com temperaturas da superfície do mar até 5°C acima da média

Coopernicus, Maio de 2024

56 empresas são responsáveis ​​por metade da poluição global de plástico

A Coca-Cola e a Pepsi foram associadas a até 16% do plástico identificável.

As cinco principais poluidoras foram: Coca-Cola (11%), PepsiCo (5%), Nestlé (3%), Danone (3%) e Altria (2%), respondendo por 24% da contagem total de marcas.

O estudo também revela uma correlação direta entre a produção de plástico e a poluição de plástico, sendo que cada aumento de 1% na produção de plástico está associado a um aumento de 1% na poluição de plástico.

Science.org, 24/04/2024

Nos últimos dois anos, a União Europeia continuou a apoiar a tecnologia de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS), apesar de décadas de projetos fracassados e centenas de milhões de euros em financiamento público desperdiçados

Em fevereiro de 2024, a Comissão Europeia apresentou a Estratégia de Gestão de Carbono Industrial (CCUS), que propõe aumentar significativamente a capacidade de captura de CO2, visando capturar 450 milhões de toneladas até 2050. No entanto, a infraestrutura de transporte de CO2 apresenta riscos consideráveis, incluindo fugas e ruturas.

O relatório “The Carbon Coup” destaca que os interesses dos combustíveis fósseis dominam o Fórum de CCUS, influenciando a política energética da UE. As empresas de petróleo e gás, como a Equinor, TotalEnergies e Shell, juntamente com grupos de lobby, têm desempenhado um papel central na
orientação do financiamento público e regulamentação para o CCUS.

Cooporate Europe Observatory, 29/04/2024

Bancos financiaram a indústria dos combustíveis fósseis em quase sete biliões de dólares desde o acordo de Paris

Os grandes bancos mundiais financiaram a indústria dos combustíveis fósseis em cerca de sete biliões de dólares (6,48 biliões de euros) desde o Acordo de Paris sobre alterações climáticas, revela o relatório Banking on Climate Chaos 2024.

Na Europa, o britânico Barclays foi o maior financiador da indústria (24,2 mil milhões de dólares) no ano passado, seguido pelo Santander (14,5 mil milhões) e pelo Deutsche Bank (13,4 mil milhões).

O JPMorgan manteve-se como o maior financiador das empresas combustíveis
fósseis (petróleo, gás e carvão) a nível mundial em 2023, tendo contribuído com 40,8 mil milhões para o sector, num total de 439,9 mil milhões de dólares ao longo dos últimos oito anos. Seguem-se o banco japonês Mizuho Financial Group (37,1 mil milhões de dólares) e o Bank of America na lista de maiores financiadores do ano passado.

Banking on Climate Chaos, Maio de 2024

Relatório classifica de ‘pensamento mágico’ as esperanças de haver um combustível de aviação sustentável

Um relatório da Institute for Policy Studies (IPS) diz que os combustíveis sustentáveis na avião estão bem longe de substituir o querosene dentro do prazo necessário para evitar o desastre climático.

Atualmente, “não há alternativa realista” aos combustíveis de aviação padrão à base de querosene, e os alardeados “combustíveis de aviação sustentáveis” estão bem longe de substituí-los num prazo necessário para evitar alterações climáticas perigosas, apesar dos subsídios públicos, diz o relatório do Fundação do Institute for Policy Studies, um grupo de reflexão progressista.

Esta meta de combustíveis sustentáveis ​​exigirá um enorme aumento de 18.887% na produção, com base nos níveis de produção de 2022, nesta década, concluiu o novo relatório.

Institute for Policy Studies, Maio de 2024

Livro: Merchants of Doubt – Como um grupo de cientistas escondeu a verdade sobre questões que vão desde o fumo do tabaco até o aquecimento global.

Artigo: O orçamento de carbono esgota-se já em 2026 para o cenário de 1.5 graus  – Se a humanidade “quisesse” limitar o aquecimento global a 1.5 graus Celsius, ao ritmo com que a economia está a queimar combustíveis fósseis, o orçamento de carbono global seria esgotado já em 2026.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *