Newsletter Fevereiro 2025

Olá!

Terminámos o mês de Fevereiro com um fim de semana intenso no Encontro Nacional por Justiça Climática, que decorreu no Liceu Camões, um espaço de reunião e partilha entre coletivos e pessoas preocupadas com a urgência climática. Foram debatidos inúmeros temas designadamente a introdução à Justiça Climática, a Democracia energética, «um mundo sem extrativismo», o projeto de mineração de lítio de Covas de Barroso, a gestão pública do Mar em Portugal, Performance e ativismo climático, Mobilidade e transportes, Ecologia e Sociedade, entre outros. Durante todas as sessões e plenários tivemos a oportunidade de trocar experiências, refletir conjuntamente e pensar em estratégias para o futuro. 

Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.

Petrolífera BP anuncia despedimento de 4700 pessoas e abandona as metas de redução de combustíveis fósseis

A petrolífera BP anunciou o despedimento de cerca de 4.700 funcionários, o que representa mais de 5% de sua força de trabalho total, como parte de um plano para reduzir custos. A empresa britânica, que conta com aproximadamente 90.000 colaboradores em todo o mundo, confirmou os cortes, mas não especificou quantas vagas serão afetadas em cada país. Além disso, cerca de 3.000 posições de contratados também serão eliminadas este ano, embora os empregados em postos de gasolina e serviços no Reino Unido, que somam cerca de 6.000, não sejam impactados. 

A decisão de despedir pessoas agora não exclui a possibilidade de mais despedimentos no futuro. A empresa também anunciou, recentemente, reduzir suas metas de produção de petróleo e gás até 2030. Um dos CEO’s da empresa, Murray Auchincloss, acredita que sua estratégia de corte de custos pode ajudar a melhorar o preço das ações da empresa, que caíram cerca de 20% desde o ano passado.

BBC, 27/01/2025

Seca no Suriname: “estamos a chorar por chuva” 

A seca no Suriname começou no início de 2023, levando a incêndios florestais e à contaminação das fontes de água. Em agosto, a escassez de água forçou as comunidades a dependerem de água contaminada dos rios, resultando na propagação de doenças especialmente entre crianças menores de cinco anos. As instalações de saúde e escolas foram severamente afetadas, com a falta de água limpa prejudicando os serviços médicos e a educação, além de escassez de alimentos e problemas de saneamento básico.

A situação é ainda mais complicada pelo aumento dos preços dos alimentos e dos custos de transporte, deixando muitas famílias sem nutrição adequada e aumentando a vulnerabilidade entre mulheres, crianças e idosos. A seca afetou 52 vilas e cerca de 40.000 pessoas em várias regiões, com aproximadamente 70% da população a necessitar de assistência humanitária. A temperatura no Suriname aumentou cerca de 1°C nos últimos 50 anos.

The Guardian, 14/01/2025

Quase 95% dos países não cumpriram o prazo estabelecido pela ONU para apresentarem novos compromissos climáticos para 2035

Apenas 13 dos 195 países signatários do Acordo de Paris publicaram os seus novos planos de redução de emissões, conhecidos como “contribuições nacionalmente determinadas” (NDCs), até o prazo de 10 de fevereiro. Os países que não cumpriram o prazo representam 83% das emissões globais e quase 80% da economia mundial, segundo uma análise do Carbon Brief. Os países que cumpriram o prazo incluem Brasil, Emirados Árabes Unidos, Nova Zelândia, Suíça, Uruguai, Andorra, Equador, Santa Lúcia, Ilhas Marshall, Singapura e Zimbábue.

Uma análise do Climate Action Tracker revelou que os novos NDCs de 2035 do Brasil, dos Emirados Árabes Unidos, dos EUA e da Suíça não são “compatíveis” com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Canadá, Japão e Indonésia divulgaram versões preliminares de seus planos climáticos para 2035, mas ainda não as submeteram à ONU. O plano do Canadá, em particular, foi criticado por estabelecer uma meta de emissões menos ambiciosa do que a recomendada. 

Carbon Brief, 10/02/2025

Tribunal de Edimburgo considera ilegal a decisão de iniciar a exploração de combustíveis fósseis, no campo petrolífero de “Rosebank”

Um tribunal na Escócia decidiu que a autorização do governo do Reino Unido para os projetos de petróleo Rosebank e Jackdaw não considerou as emissões de CO2 resultantes da queima do petróleo e gás produzidos.

O desenvolvimento de Rosebank, o maior campo de petróleo não explorado do Reino Unido, havia sido aprovado em 2023 sob o governo anterior. No entanto, a decisão do tribunal de Edimburgo, que apoiou ativistas e cientistas, declarou que as permissões eram ilegais por não levarem em conta os impactos climáticos significativos. Isto foi uma enorme vitória dos movimentos sociais que disseram “Stop Rosebank

A Agência Internacional de Energia reiterou que não devem haver novas explorações de petróleo e gás se o mundo quiser limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

The Guardian, 30/01/2025

Portugal é o oitavo país do mundo com mais emissões por jatos privados: equivalem às emissões de 140 mil pessoas

Esta posição deve-se ao facto de estar sediada em Portugal a”subsidiária europeia da maior empresa de jactos privados do mundo, NetJets Europe”, que “detém a maioria da frota portuguesa”. As emissões anuais de CO2 da aviação privada aumentaram 46% entre 2019 e 2023.

O movimento Aterra alertou hoje que os jactos privados registados em Portugal aumentaram de 145, em 2023, para 153 em 2024, tendo provocado neste ano emissões de dióxido de carbono superiores às de 140 mil portugueses.

“Neste panorama, Portugal permanece nos 10 países de todo o mundo com maiores emissões absolutas por jactos privados, estando abaixo apenas dos Estados Unidos, Canadá, Malta, Alemanha, Reino Unido, México e Brasil”, explica o movimento.

Sapo, 10/02/2025

Cientistas detetam grandes fugas de metano na Antártida

Uma expedição científica espanhola descobriu “emissões massivas” de metano no subsolo marinho da Antártida, um fenómeno sem precedentes na região e com potencial impacto no aquecimento global.

O metano está a escapar do leito oceânico sob a forma de colunas que atingem até 700 metros de comprimento e 70 metros de largura.

É como um gelo ao qual se pode pegar fogo e ele arde”, explicou um dos cientistas ao jornal El País. A quantidade de carbono armazenada nos hidratos de metano nesta área pode atingir as 24 gigatoneladas (a média de uma pessoa que mora em Portugal é cerca de 5 toneladas/ano).

O degelo dos hidratos de metano já tinha sido documentado no Ártico, mas esta é a primeira vez que o fenómeno é identificado na Antártida.

Executive Digest, 12/02/2025

América

Na Patagónia (Argentina) quatro fogos dizimaram cerca de 20.000 hectares, provocaram a morte de um idoso e levaram a mais de mil evacuações. O desastre ambiental afetou quatro parques nacionais, tendo suspendido comboios e destruído inúmeras habitações. As autoridades locais solicitaram apoio financeiro para auxiliar as populações que perderam as suas casas. 

Também no Brasil se regista uma onda de calor sem precedentes. Especialistas referem que as habituais ondas de calor – que tinham uma duração média de 5 dias – estão a prolongar-se por 20 dias consecutivos, com aumento de temperatura superior ao esperado (cerca de 5 a 6 graus) e impactos diversos na saúde humana. Médicos apontam consequências «nunca vistas», «quase uma nova doença», dizem, com efeitos diversificados como sejam enfartes, partos prematuros, baixo peso dos recém-nascidos, etc.

Oceania

O ciclone Zélia afetou a Austrália em meados de Fevereiro. Tempestade de categoria 4, com ventos cerca de 200 km/h e registo de chuva forte (440 mm em 2 dias). O evento extremo provocou intensas cheias, queda de árvores e conduziu ao encerramento de autoestrada no nordeste do país, tendo comprometido o fornecimento de bens essenciais em algumas regiões que ficaram com prateleiras de supermercados vazias. Mais um registo de como as alterações climáticas estão a afetar o quotidiano das pessoas. 

África

No Sudão escolas encerraram por duas semanas devido ao calor extremo que se fez sentir na região. É a segunda vez que os estabelecimentos escolares fecham portas devido a alterações climáticas. O Ministério da Educação  pondera alterar o calendário escolar para fazer face às mudanças de clima, evitando comprometer as rotinas educativas, uma vez que as temperaturas sentidas afetaram a saúde dos alunos. Em Juba registou-se uma média de 12 desmaios em alunos por dia, em consequência do calor extremo. 

Europa

No final do mês, chuvas fortes provocaram inundações no País de Gales tendo comprometido a circulação de pessoas por via ferroviária (uma linha de caminhos de ferro ficou bloqueada) e também algumas autoestradas foram encerradas como consequência do evento extremo. Os avisos das autoridades possibilitaram prevenir alguns danos, designadamente com a retirada das viaturas de zonas passíveis de inundar, como também pela distribuição de sacos de areia colocadas em diferentes regiões do distrito Rhondda Cynon Taf, refletindo-se numa mitigação dos efeitos desastrosos da tempestade. 

Estudo mostra que as folhas quentes têm dificuldade em fazer a fotossíntese e capturar carbono do ar

Na costa leste da Austrália, na região tropical de North Queensland, encontra-se a floresta tropical de Daintree, um local onde a densidade das árvores forma uma massa verde quase impenetrável. A atmosfera é quente e húmida. As florestas tropicais, como a de Daintree, são frequentemente chamadas de “pulmões” da Terra, pois absorvem dióxido de carbono e libertam vapor de água e oxigénio por meio da fotossíntese, desempenhando um papel crucial na regulação do clima global.

No entanto, pesquisas recentes indicam que o aumento das temperaturas afetará severamente a capacidade das florestas tropicais de realizar a fotossíntese, reduzindo sua habilidade de absorver dióxido de carbono e, consequentemente, a sua eficácia na mitigação do aquecimento global. A capacidade das plantas de se adaptarem a diferentes ambientes, conhecida como aclimatação, é uma estratégia importante para lidar com as mudanças climáticas. Contudo, as árvores tropicais podem ter uma capacidade limitada de se aclimatarem ao aquecimento, uma vez que evoluíram em condições climáticas relativamente estáveis e já estão próximas do limite superior de temperaturas que podem tolerar.

Um estudo realizado na floresta de Daintree, que durou oito meses, testou como as folhas de árvores tropicais reagiriam ao aquecimento. Os pesquisadores aqueceram folhas de quatro espécies de árvores em 4°C, uma temperatura prevista para os sistemas tropicais até 2100. Os resultados mostraram que a fotossíntese foi reduzida em média em 35% nas folhas aquecidas, devido à diminuição da abertura dos estômatos e à interferência nas enzimas essenciais para a fotossíntese. Mesmo após meses de aquecimento, as árvores não demonstraram capacidade de se ajustar às temperaturas mais altas, sugerindo que já operam perto de seus limites térmicos.

The conversation, 15/01/2025

Democracia em risco em Davos: novo relatório expõe o lobbying das grandes tecnológicas e a sua interferência política

Cinco parceiros do Fórum Económico Mundial (WEF) controlam 11% do PIB global, totalizando €11,91 trilhões, o que equivale ao PIB nacional combinado de mais de 168 países.

As grandes empresas de tecnologia, como Google, Amazon, Meta, Microsoft e Apple, são responsáveis por até 75% de aumento nos preços de seus serviços e produtos.

Essas cinco empresas monopolistas, todas parceiras do WEF, gastam mais em lobby na Europa do que as dez principais empresas dos setores financeiro e automóvel, com a indústria de tecnologia a aumentar seus gastos com lobby de €97 milhões para €113 milhões, só na União Europeia.

Entre as dez pessoas mais ricas do mundo, cinco são bilionários da tecnologia, incluindo Elon Musk, que recentemente manifestou apoio a partidos fascistas na Europa, como o Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Partido Reformista no Reino Unido.

Global Justice, 15/01/2025

A maior parte da riqueza dos bilionários (60%) é proveniente de heranças, clientelismo, corrupção ou poder monopolista

O estudo da Oxfam intitulado “takers not makers” revela que a riqueza dos bilionários cresceu três vezes mais rápido em 2024 do que em 2023, e espera-se que haja cinco trilionários dentro de uma década.

Enquanto isso, as crises económicas, climáticas e de conflitos resultaram numa mudança mínima no número de pessoas a viver na pobreza desde 1990.

O relatório detalha números que devem indignar todas as pessoas, como por exemplo:

– A riqueza de cada um dos 10 homens mais ricos aumentou, em média, quase 100 milhões de dólares por dia em 2024.

– Mesmo que alguém poupasse 1.000 dólares por dia desde os primeiros seres humanos, há 315.000 anos, não teria tanto dinheiro como um dos dez bilionários mais ricos.

– Se qualquer um dos 10 bilionários mais ricos perdesse 99% da sua riqueza, continuaria a ser bilionário.

OXFAM, 20/01/2025

Expansão de instalações de exportação de GNL da América do Norte farão aumento dos preços e das emissões

Um novo relatório revela que os 14 terminais de exportação de gás natural liquefeito (GNL) propostos por Donald Trump resultarão num aumento das contas de energia na América do Norte e num aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa.

Esses terminais já assinaram acordos para vender um total de 76 milhões de toneladas métricas de GNL por ano, com mais de 51% desse volume destinado a grandes empresas de petróleo e outras empresas que atuam como especuladores, vendendo gás globalmente para obter o maior preço, incluindo para a China, onde as importações de gás estão em alta.

Embora haja alegações de que as exportações de GNL são necessárias para apoiar aliados europeus, os clientes da região da Ásia-Pacífico representam uma parcela maior, cerca de 29%, do volume de GNL a ser vendido pelos 14 terminais. Os compradores incluem várias empresas chinesas e sul-coreanas, enquanto apenas 19% do volume é destinado à Europa, onde as importações de GNL aumentaram após a guerra na Ucrânia, mas diminuíram desde então. O maior comprador individual de GNL desses terminais é a gigante energética estatal saudita Aramco, seguida pela Shell e Chevron.

Os acordos de fornecimento já assinados pelos 14 terminais de GNL representam mais de 510 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, o que equivale às emissões anuais de 135 novas centrais de carvão.

Friends of the Earth, 17/01/2025

Quase 250 milhões de crianças sofreram interrupções na educação em 2024 devido a eventos extremos

Em 2024, Portugal registou mais de 16 000 estudantes afetados por interrupções escolares devido a incêndios florestais.

Em 2024, pelo menos 242 milhões de estudantes em 85 países viram a sua educação interrompida devido a fenómenos climáticos extremos, como ondas de calor, ciclones tropicais, tempestades, inundações e secas. Estes fenómenos intensificaram ainda mais os desafios já existentes no setor da educação, segundo uma nova análise divulgada pela UNICEF.

Globalmente, as ondas de calor foram identificadas como o principal risco climático em 2024, dando origem ao encerramento de escolas e afetando mais de 118 milhões de estudantes apenas no mês de abril. Nesse período, o Bangladesh e as Filipinas enfrentaram encerramentos generalizados de escolas, enquanto no Camboja os horários escolares foram reduzidos em duas horas diárias. Em maio, as temperaturas na Ásia do Sul subiram para valores superiores a 47°C em algumas áreas, aumentando o risco de insolação nas crianças.

Alguns países enfrentaram múltiplas perturbações climáticas no ano passado. No Afeganistão, por exemplo, além das ondas de calor, graves inundações em maio destruíram mais de 110 escolas, interrompendo as aulas de milhares de estudantes.

De acordo com o relatório, 74% dos estudantes afetados no ano passado viviam em países de rendimentos baixos ou médios-baixos.

UNICEF, 24/01/2025

Taxa de aquecimento dos oceanos quadruplicou em 40 anos

A taxa de aquecimento dos oceanos mais do que quadruplicou nos últimos 40 anos, o que motivou temperaturas oceânicas sem precedentes em 2023 e início de 2024. O estudo foi publicado na revista ‘Environmental Research Letters’ e informa que as temperaturas dos oceanos estavam a aumentar cerca de 0,06 graus celsius por década no final dos anos 1980 e agora estão a aumentar 0,27 graus por década.

A aceleração do aquecimento dos oceanos é impulsionada pelo crescente desequilíbrio energético da Terra, que absorve mais energia do Sol do que a que escapa para o espaço. Este desequilíbrio quase duplicou desde 2010, em parte devido ao aumento das concentrações de gases com efeito de estufa, que são causadas pela queima de combustíveis fósseis e porque a Terra está agora a refletir menos luz solar para o espaço do que antes.

As temperaturas globais dos oceanos atingiram máximos históricos durante 450 dias seguidos em 2023 e no início de 2024. Parte desse aquecimento deveu-se ao “El Niño”, um fenómeno natural e temporário de aquecimento das águas no oceano Pacífico e que influencia o clima no planeta.

Mas quando os cientistas fizeram a comparação com outro evento “El Niño” semelhante em 2015-16 concluíram que o resto do calor recorde é explicado por a superfície do mar ter aquecido mais rapidamente nos últimos 10 anos do que nas décadas anteriores. Assim, 44% do aquecimento recorde foi atribuído à absorção de calor pelos oceanos a um ritmo acelerado.

Notícias ao minuto, 28/01/2025

LivroA Brief History of the Earth’s Climate – O livro é um guia acessível que destrói mitos sobre a evolução natural do clima da Terra ao longo de 4,6 mil milhões de anos e sobre como e porquê do aquecimento global e das alterações climáticas.

VídeoComo os navios de cruzeiro se tornaram uma catástrofe para o planeta – Reportagem do jornalista Josh Toussaint-Strauss, para o The Guardian sobre os impactos dos navios de cruzeiro.

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