Newsletter abril 2025

Olá,

No mês em que celebramos 51 anos da revolução dos cravos, o serviço Coopernicus elaborou o seu relatório anual “European State of the Climate 2024“. Desse relatório, entendemos destacar que:

– 2024 foi o ano mais quente na Europa, com temperaturas anuais recorde em quase metade do continente;

– Em Setembro, os incêndios em Portugal queimaram cerca de 110 mil hectares (1100 km2) numa semana, o que representa cerca de um quarto da área ardida anual total da Europa. Estima-se que 42 mil pessoas tenham sido afectadas por incêndios florestais na Europa;

– A temperatura da superfície do mar (TSM)​ para a região europeia foi a mais elevada de que há registo, com 0,7°C acima da média, e para o mar Mediterrâneo, com 1,2°C acima da média

Partilhamos um resumo, preparado pelo jornal Público, sobre o relatório.

Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.

Notícias

Derrame de petróleo num rio do Equador provoca declaração de estado de emergência

Um derrame de petróleo no noroeste do Equador transformou um rio numa massa negra, levando as autoridades a declarar emergência ambiental e a ordenar que os residentes racionem a água potável. O derrame, que se acredita ter sido causado por um deslizamento de terras que rompeu um importante oleoduto, contaminou uma secção do rio Esmeraldas.

O presidente da câmara, Vilko Villacis, da cidade com mais de 200.000 habitantes, afirmou que o derrame causou danos “sem precedentes”. O seu gabinete interrompeu o desvio da água do rio para um aqueduto que abastece a cidade e pediu à população que racionasse a água.

France24, 15/03/2025

Eventos extremos em 2024 resultaram no maior número de novas pessoas deslocadas desde 2008

Mais de 600 eventos extremos foram reportados em 2024, incluindo 148 classificados como “sem precedentes”, resultando no deslocamento de 824.000 pessoas e na morte de 1.700, segundo a
Organização Meteorológica Mundial (OMM).

De acordo com os dados da OMM, ocorreram 605 eventos climáticos extremos globalmente no ano passado, resultando em 1,1 milhão de pessoas feridas. Desses eventos, 148 foram considerados “sem precedentes” e 289
“incomuns”.

Embora nenhum continente tenha sido poupado a Europa foi a mais afetada, com 188 eventos extremos, principalmente ondas de calor, seguidas por chuvas intensas e inundações. A mortalidade relacionada ao calor na Europa aumentou cerca de 30% nas últimas duas décadas, e um estudo de 2024 concluiu que as mortes relacionadas ao calor podem triplicar até ao final do século. O relatório anual da OMM sobre o Estado do Clima revelou que vários indicadores-chave das mudanças climáticas atingiram níveis recordes em 2024, incluindo as maiores concentrações de dióxido de carbono em 800.000 anos e os níveis mais baixos de gelo marinho no Ártico.

Earth.org, 20/03/2025

Portugal é o primeiro país da Europa a aprovar uma moratória sobre mineração em mar profundo

O projeto de lei que estabelece a moratória foi aprovado apenas com os votos contra dos partidos Chega e Iniciativa Liberal e sem abstenções.

A nova legislação tinha sido aprovada na Comissão de Ambiente e Energia, depois de ter sido discutida em fevereiro na especialidade na sequência da aprovação dos projetos do PSD, do PS, do Livre e do PAN.

As associações WWF Portugal, Sciaena e Sustainable Ocean Alliance ressalvam que “esta medida precisa de ser complementada pelo menos com uma rede de áreas marinhas protegidas ecologicamente coerente, verdadeiramente nacional, e com gestão e monitorização efetiva, de forma a poder cumprir adequadamente a meta de proteção de 30% do seu mar e de 10% de proteção
estrita do mesmo até 2030, e com a inclusão adequada dos ecossistemas
marinhos e costeiros no Plano Nacional de Restauro da Natureza.”

Expresso, 14/03/2025

A petrolífera ENI não revelou a verdadeira dimensão das emissões de gases com efeito de estufa dos seus projectos em Moçambique

A organização “ReCommon” publicou hoje o relatório “Hidden Flames”, que analisa os impactos associados ao projeto de extração de gás fóssil, Coral South FLNG da ENI, localizado ao largo da costa de Moçambique.

Através da análise de dados públicos e imagens de satélite, a associação concluiu que o projeto de
extração e liquefação da ENI tem sido responsável por numerosos fenómenos de queima de gás desde o início das operações em 2022, práticas que não foram adequadamente reportadas pela empresa.

A queima de gás, que ocorre quando o gás excedente extraído é queimado, e tem impactos significativos no clima, no meio ambiente e na saúde das populações nas áreas residenciais circundantes. Entre junho e dezembro de 2022, as operações de queima desperdiçaram 435.000 metros cúbicos de gás, o que equivale a cerca de 40% das necessidades anuais de Moçambique.

ReCommon, 26/03/2025

Há um milhão de crianças sem ajuda em Gaza há mais de um mês, alerta a UNICEF

Desde 02 de março que Israel bloqueia o fluxo de ajuda para Gaza causando escassez de alimentos, água potável, abrigo e material médico”, disse a Unicef.

Segundo as autoridades, 1,95 milhões de crianças estão em situação de insegurança alimentar grave e 345 mil estão numa fase catastrófica, com 12 mil em desnutrição severa.

Enquanto este genocídio acontece, também se soube que Israel matou 15 paramédicos, trabalhadores de equipas de salvamento e um trabalhador das Nações Unidas.

Entretanto, além de vários casos reportados na América do Norte, também na Alemanha há pessoas a serem detidas e a incorrerem o risco de deportação por terem participado em protestos em solidariedade com a Palestina.

Sapo, 06/04/2025

A crise climática está a caminho de destruir o capitalismo, sugere a seguradora Allianz

Günther Thallinger, membro do conselho da Allianz SE, uma das maiores seguradoras do mundo, adverte que a crise climática está a caminho de destruir o capitalismo, uma vez que os custos elevados dos desastres climáticos estão a tornar o setor financeiro insustentável. Ele enfatiza que, sem seguros, muitos serviços financeiros, como hipotecas e investimentos, se tornam inviáveis, especialmente em regiões onde a cobertura já está a ser retirada.

Em Portugal, onde a proteção contra eventos extremos é considerada frágil em comparação com outros países europeus, o sector dos seguros pretende um modelo de PPP, segundo o Jornal de Negócios.

Entre 1970 e 2019, o número de eventos extremos quintuplicou, resultando em mais de dois milhões de
mortes e perdas económicas superiores a 3,64 biliões de dólares, o que equivale a 202 milhões de dólares de prejuízos diários. Portugal, devido à sua localização geográfica, é um dos países europeus mais vulneráveis com previsões alarmantes de perda de até 40% da precipitação e aumento das temperaturas, que podem levar a ondas de calor mais frequentes e prolongadas, com temperaturas na ordem dos 45 graus tornando-se mais habituais.

The Guardian, 03/04/2025

América

Depois de dias de chuvas e ventos intensos que mataram pelo menos 18 pessoas no sul e centro-oeste dos EUA, os rios subiram e as inundações pioraram, ameaçando comunidades alagadas e gravemente danificadas.

A Bolívia tem sido atingida desde o final de Março por algumas das chuvas mais intensas das últimas décadas afetando 590 mil famílias e provocando pelo menos 55 vítimas mortais.

Ásia e Oceânia

Fortes ventos causaram estragos em Pequim e partes do norte da China, forçando o cancelamento de centenas de voos, o encerramento de serviços e a suspensão de linhas ferroviárias. Os fortes ventos eram provenientes principalmente de um sistema de vórtice frio formado sobre a Mongólia, que se movia para leste e sul, varrendo o norte da China.

Grande parte da Índia e do Paquistão já estão a experienciar ondas de calor em abril com temperaturas perto dos 40º C, uma época anormalmente cedo para estas condições, naquilo que os cientistas dizem estar rapidamente a tornar-se o “novo normal”.

No interior de Queensland, na Austrália, uma área quatro vezes maior que o Reino Unido foi inundada por chuvas torrenciais, deixando pessoas isoladas ou forçadas a abandonar suas casas.

África

No Quênia, fortes chuvas em Nairóbi causaram pelo menos sete mortes devido às inundações repentinas. Pelo menos 60 mil pessoas foram afetadas pelas cheias, com mais de 500 forçadas a abandonar as suas casas.

No Mali, a agência meteorológica nacional emitiu um alerta meteorológico extremo para todo o país uma vez que se esperavam temperaturas máximas previstas devem de 40-47°C por pelo menos três dias consecutivos.

Europa

Após a tempestade Hans atingir o norte da Itália na véspera da Páscoa, o tempo severo continuou a atingir grande parte do país. As condições climáticas têm provocado fortes chuvas e trovoadas, e foram emitidos alertas meteorológicos.

Na Grécia, as Ilhas de Paros e Mykonos decretaram estado de emergência devido a cheias catastróficas, tendo sido declarado estado de emergência dada a dimensão das inundações.

Estudo revela um aumento crescente das emissões do turismo e desigualdades “alarmantes” entre países

Um estudo, de 2024, analisou uma década de dados sobre turismo em 175 países, revelando um crescimento alarmante nas emissões de gases com efeito de estufa relacionadas com o turismo e desigualdades significativas entre os países. O estudo, realizado por cientistas de quatro universidades, a pesquisa é a mais detalhada do tipo, cobrindo o período de 2009 a 2020, e foi publicada na revista Nature Communications.

Entre 2009 e 2019, as emissões globais de turismo cresceram 3,5% ao ano, uma taxa que é o dobro do crescimento da economia mundial. Em 2019, o turismo foi responsável por 8,8% das emissões globais de gases de efeito estufa, totalizando 5,2 gigatoneladas de emissões, um aumento líquido de 1,5 gigatonelada em apenas uma década. A aviação, considerada o “calcanhar de Aquiles” das emissões de turismo, foi a maior responsável, representando metade das emissões diretas do setor. Além disso, a intensidade de carbono do turismo é 30% maior do que a média da economia global.

O estudo também destacou desigualdades “alarmantes” nas emissões entre os países, com apenas três nações – Estados Unidos, China e Índia – a responderem por 39% das emissões globais de turismo em 2019. Os 20 países com maiores emissões contribuíram com três quartos da pegada global de turismo, enquanto os outros 155 países somaram apenas 25%. Os autores do estudo consideram que, se a taxa de crescimento das emissões continuar, elas poderão dobrar a cada 20 anos, ameaçando a viabilidade futura do turismo global.

Tourismemissions.org, 11/12/2024

Os glaciares estão a perder 273 mil milhões de toneladas de gelo a cada segundo

Um estudo publicado pela revista Nature

refere que todos os glaciares relativamente pequenos combinados (porque os da Antártida e da Gronelândia não estão incluídos) perderam aproximadamente 5% do seu volume entre 2000 e 2023. Isto equivale a uma perda de 273 mil milhões de toneladas de gelo, “o equivalente a três piscinas olímpicas por segundo” e que é mais do dobro do manto de gelo da Antártida, diz o estudo.

Na Europa Central, nos Alpes, perdeu-se mesmo 39% da massa de gelo.

A quantidade de água de degelo que desce varie todos os anos, mas os investigadores consideram chocante o padrão que se está a tornar visível. Entre 2012 e 2023, piorou, pois, perdeu-se muito mais gelo (mais 36%) do que na década anterior.

Nature, 19/02/2025

O financiamento que deveria ir para preservar as florestas está a alimentar a sua destruição, revela relatório

Um novo relatório intitulado “Transforming Forest Finance” revela que o financiamento global para a conservação das florestas é gravemente inadequado, com uma parte significativa do dinheiro a contribuir para a destruição das florestas em vez de protegê-las. Publicado pela Forest Declaration Assessment, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outras organizações, o relatório destaca uma lacuna alarmante no financiamento. Estima-se que sejam necessários cerca de 460 bilhões de dólares por ano para interromper o desmatamento, mas o apoio financeiro real está muito
aquém desse valor.

O relatório aponta que, para cada dólar gasto na proteção das florestas, seis dólares são direcionados a atividades que impulsionam o desmatamento, como a agricultura industrial e a exploração madeireira. Em 2023, instituições financeiras privadas investiram 6,1 trilhões de dólares em setores relacionados ao desmatamento, enquanto os governos continuaram a fornecer 500 bilhões de dólares anualmente em subsídios que incentivam a destruição ambiental.

Downtoearth.org, 20/03/2025

Madeira proveniente de desflorestação ilegal da Amazónia continua a chegar à Europa

Uma nova investigação realizada pela Agência de Investigação Ambiental (EIA) revelou a existência de exploração ilegal, fraude e corrupção generalizadas na Amazônia brasileira, levando a que a madeira extraída de forma ilegal de cinco locais de exploração no estado do Pará chegue até à União Europeia e à América do Norte. Os investigadores identificaram 30 importadores que compraram a madeira contaminada, apesar das leis que proíbem a importação de madeira ilegal.

Entre as madeiras mais comercializadas e mais valorizadas está o ipê (Handroanthus spp.), uma madeira tropical densa e procurada por sua durabilidade, que é comumente usada para decks externos, inclusive em grandes projetos de construção pública, como o calçadão de Long Island, em Nova York.

Environmental Investigation Agency, 03/04/2025

Nova investigação expõe mais de 25 marcas globais que impulsionam o fracking e alimentam a crise do plástico

Uma nova investigação do Stand.earth Research Group (SRG) e do Center for International Environmental Law (CIEL) revela a cadeia de produção que alimenta a produção global de plástico, destacando as grandes marcas que impulsionam a fraturação hidráulica (fracking) e, ao mesmo tempo, aceleram as crises do plástico e climática. A pesquisa mostra que algumas das maiores marcas de consumo do mundo estão a promovero a expansão de combustíveis fósseis no Texas.

O relatório Fracked Plastics Map, que é uma ferramenta interativa que faz as conexões entre mais de 25 grandes marcas de consumo — incluindo a Coca-Cola, PepsiCo e Nestlé — e os petroquímicos provenientes do fracking na Bacia do Permiano, no Texas.

A pesquisa também destaca o papel oculto de grandes empresas, onde um pequeno grupo de comerciantes e exportadores transporta etano de poços de fracking nos EUA para fábricas petroquímicas na Europa e na Ásia, alimentando a produção de embalagens de plástico.

Stand.earth, 01/04/2025

Os novos centros de dados das grandes empresas tecnológicas vão buscar água às zonas mais secas do mundo

Uma investigação realizada pela SourceMaterial e pelo Guardian revelou que Amazon, Google e Microsoft estão a operar datacentres em algumas das áreas mais secas do mundo, utilizando grandes quantidades de água e planeando a construção de muitos outros. Com o apoio de Donald Trump, essas empresas de tecnologia estão a expandir as suas operações, o que pode ter um impacto significativo nas populações que já enfrentam escassez de água.

O estudo identificou 38 datacentres ativos e 24 em desenvolvimento, todos localizados em regiões com escassez hídrica. Embora as empresas defendam que consideram a escassez de água nos seus projetos, a análise mostra que a Microsoft obteve 42% de sua água de áreas com stresse hídrico, enquanto o Google relatou 15% de seu consumo em regiões de alta escassez. A localização dos datacentres é frequentemente mantida em segredo, mas a pesquisa revelou que as empresas planeam aumentar em 78% o número de datacentres em todo o mundo, com construções previstas em todos os continentes.

Na região de Aragão, na Espanha, os novos datacentres da Amazon estão licenciados para usar cerca de 755.720 metros cúbicos de água por ano, o que é suficiente para irrigar uma vasta área de milho. No entanto, a utilização real de água será ainda maior, pois não considera a água necessária para gerar a eletricidade que alimentará as instalações. O aumento da procura por água e energia, combinada com a crise climática, está a levar a Espanha à beira de um colapso ecológico, com 75% do país já em risco de desertificação. A oposição local, incluindo agricultores preocupados com a escassez de água, está a pedir uma moratória sobre a construção de novos datacentres na região.

The Guardian, 09/04/2025

ArtigoComo o clima extremo está a destruir as colheitas em todo o mundo – Artigo com infográficos sobre como crise climática afeta colheitas

VídeoCriminalised for the Climate: Episode One – O primeiro episódio centra-se em Miriam, uma das activistas mais procuradas da Alemanha, que está a ser acusada com base no Código Penal alemão. Se forem considerados culpados, os activistas climáticos associados à Last Generation poderão ser todos acusados de trabalhar para uma organização criminosa.

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