Nos primeiros 10 dias do ano os super-ricos já esgotaram a sua quota de emissões
Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações
Olá!
Entramos em 2025 com a informação que não quereríamos dar: 2024 registou uma temperatura média global de 1.55ºc, o que torna cada vez mais urgente a ação pela Justiça Climática. A OMM (Organização Meteorológica Mundial) confirma que 2024 foi o ano mais quente desde a Era Pré-Industrial. A última década tem registado sucessivos aumentos e o ano passado volta a superar o precedente.
Como sabemos, as alterações climáticas afetam de forma desigual as pessoas e as comunidades, pelo que continuaremos a utilizar este espaço para partilhar notícias, estudos e artigos que nos fazem pensar. E que nos despertem a agir.
Que as leituras te motivem a juntares-te a nós nas próximas ações e, se quiseres aprofundar conhecimento aproveita, pois o Encontro Nacional por Justiça Climática é já em Fevereiro!
Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.
Notícias
Lobista da Exxon foi investigado por pirataria e por ter pirateado o correio eletrónico de ambientalistas
O FBI está a investigar um consultor de longa data da Exxon Mobil pelo seu envolvimento numa uma operação de pirataria online que visou críticos da empresa, incluindo ativistas ambientais. A operação, que começou em 2015, envolveu hackers que invadiram contas de e-mail de ativistas.
A empresa de relações públicas, DCI Group, foi contratada pela Exxon, para compilar os nomes dos alvos e depois passar a informação a um detetive particular. Parte do material roubado foi enviado para a comunicação social pela DCI, que o partilhou também com a Exxon.
Os ativistas afirmam que a operação prejudicou a preparação de processos judiciais contra a Exxon e outras empresas de energia. O detetive particular contratado pela DCI, Amit Forlit, foi preso em Londres e está a lutar contra a extradição para os EUA por acusações de hackeamento e fraude.
Reuters, 27/11/2024
Uma onda de calor marinha matou quatro milhões de aves no Alasca
Entre 2014 e 2016, o aquecimento das águas no Nordeste do oceano Pacífico, junto ao Alasca, provocou uma longa onda de calor marinha com efeitos nefastos para várias espécies. Uma delas foi o airo-comum (Uria aalge). Na altura, foram encontradas cerca de 62.000 carcaças desta ave marinha, muitas delas com sinais de inanição.
Agora, um estudo mostra a verdadeira dimensão do fenómeno: cerca de quatro milhões de indivíduos morreram entre 2015 e 2016.
“É certo que as alterações climáticas já foram relacionadas com muitas mudanças de longo prazo nos ecossistemas, mas o que foi especialmente único aqui foi o desaparecimento catastrófico, abrupto e num muito curto prazo de tempo de metade de uma espécie que é muito abundante”
Através dos dados populacionais e de modelos matemáticos (que não foram aplicados nas restantes cinco das 13 colónias, onde havia menos dados), a perda média de aves nas colónias foi de 58% no golfo do Alasca e 70% no Leste do mar de Bering.
Desastres climáticos causaram danos de 229 mil milhões de dólares em 2024
Os 10 maiores desastres climáticos deste ano causaram danos no valor de 229 mil milhões de dólares (219,3 mil milhões de euros) e foram responsáveis por matar cerca de duas mil pessoas, segundo o jornal “The Guardian”.
O top10 engloba, pela primeira vez desde 2018, dois eventos climáticos, o furacão Helene e Milton, que foram responsáveis por mais de 50 mil milhões de dólares das perdas (47,87 mil milhões de euros).
O tufão Yagi, que ocorreu no sudoeste da Ásia, também está no top10, tendo causado 12,6 mil milhões de dólares de destruição (cerca de 12 mil milhões de euros), a tempestade Boris, na Europa, também integra o top, causando cinco mil milhões de dólares (4,79 mil milhões de euros) em perdas.
Londres foi a cidade europeia com mais trânsito em 2024
Os condutores da capital britânica passaram em média 101 horas parados no trânsito no ano passado, um aumento de 2% face ao ano anterior.
No pódio europeu ficam ainda Paris, com 97 horas de atraso, e Dublin, com 81 horas.
A primeira cidade portuguesa surge em 44º lugar: os condutores em Lisboa passam 60 horas no trânsito, um aumento de 5% face a 2023 e de 28% em relação a 2022. No segundo posto, aparece o Porto (226º), com 36 horas no trânsito, um aumento de 16% face ao ano anterior. A fechar o top 3 em
Portugal está Cascais (358º), com 26 horas. Braga, Coimbra e Barcelos, todas com 22 horas ‘perdidas’.
O estudo pode ser encontrado aqui.
Importações de gás fóssil liquefeito russo batem máximos, para a UE
Em 2024, as importações da UE de gás liquefeito russo atingiram valores recorde. França, Espanha e Países Baixos importaram os níveis mais altos, meses antes da entrada em vigor das novas sanções.
Segundo os dados do Independent Commodity Intelligence Services (ICIS), uma consultora especializada nos mercados globais de commodities, em 2024,as importações de GNL russo para o bloco europeu atingiram os 15,8 milhões de toneladas (Mt)solidificando a posição de Moscovo de segundo maior fornecedor deste combustível à UE, atrás dos Estados Unidos.
Em 2023, o valor situou-se nos 12,7 Mt, mas no ano anterior as importações totalizaram os 13,5 mt.
Os super-ricos já queimaram mais do que a sua quota-parte de carbono em 2025
De acordo com uma pesquisa da Oxfam, as pessoas mais ricas do mundo podem já ter utilizado a sua parte justa do orçamento global de carbono anual. Com base em dados de 2019, a Oxfam estima que os 77 milhões de indivíduos no top 1% de rendimentos, com rendimentos médios de $310.000 por ano, emitem 2,1 toneladas de dióxido de carbono em apenas dez dias.
Em contrapartida, os 3,9 bilhões de pessoas mais pobres, que representam os 50% mais baixos da população global, levam quase três anos para emitir a mesma quantidade.
Segundo o orçamento global de carbono estimado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2,1 toneladas por ano é o limite individual que cada pessoa pode emitir até 2030 sem ultrapassar o aumento de 1,5°C na temperatura global.
Climate Change News, 10/01/2025
Eventos Extremos
América
Os incêndios de 2025 em Los Angeles e sua relação com as alterações climáticas. Neste artigo, em baixo, são analisados diferentes fatores que enquadram e potenciam a compreensão do fenómeno que assolou a Califórnia nas últimas semanas. Resumo sobre os fogos em Los Angeles com informações sobre:
- Como é que os incêndios se desenvolveram
- Como é que os fogos começaram
- Quais foram os impactos dos fogos
- A influência das alterações climáticas nestes fogos
Ásia
Cheias na Indonésia afetaram nove aldeias da província de Java. Pelo menos 21 pessoas perderam a vida, cerca de 13 ficaram gravemente feridas e 300 foram forçadas a abandonar temporariamente as suas casas. Nestas localidades, estradas e campos de arroz foram transformados em lamaçais, após as chuvas torrenciais terem afetado a região.
África
Rio Limpopo isola 22 mil pessoas em Moçambique, gerando uma situação humanitária muito grave. Ainda que os habitantes da região afetada se encontrem em segurança, estão privados de se deslocar para as atividades diárias e, por isso, sem acesso a bens essenciais. Acresce ainda a destruição de áreas de cultivo, fonte de subsistência das populações. Contam-se, pelo menos, 58 mil hectares de terrenos agrícolas afetados pelas inundações, o que compromete a alimentação de milhares de pessoas. 12 mil famílias perderam quase tudo.
Europa
Mais de 1000 voos foram cancelados no Reino Unido e na Irlanda devido à tempestade Eowin, deixando milhares de pessoas em terra, aconselhadas a ficar em casa. O fenómeno climático registou ventos de cerca de 135km/hora, representando um record na velocidade do vento na Irlanda. O evento foi considerado extremamente raro, ocorrendo «uma vez numa geração», segundo Euronews
As pessoas foram ainda desaconselhadas a viajar de comboio e de automóvel em várias regiões afetadas, designadamente Londres. Na Irlanda, mais de 715000 casas, quintas e escritórios ficaram sem eletricidade e todas as escolas do país foram encerradas no dia 24 de Janeiro.
Estudos Científicos e Relatórios
Mentiras liquefeitas: Os custos reais do vício da Europa no gás “natural” liquefeito
Um novo relatório da Food and Water Europe revela que entre 2021 e 2023, as importações de Gás “Natural” Liquefeito (GNL) pela União Europeia duplicaram, representando cerca de 40% das importações de gás do bloco. No entanto, o GNL não é uma fonte de energia limpa ou barata. As suas emissões elevadas de gases de efeito estufa e metano agravam as alterações climáticas, prejudicam a saúde humana e estão associadas a abusos de direitos humanos, especialmente em comunidades marginalizadas nos países exportadores.
Apesar dos terminais existentes, na UE, estarem a ser subutilizados, a UE planeia expandir a sua capacidade de GNL para 406 bcm até 2030.
Food and Water Europe, 09/12/2024
O presente e o futuro da energia geotérmica
Atualmente, a energia geotérmica cobre apenas cerca de 1% do consumo global de eletricidade.
Um relatório da Agência Internacional de Energia constata que até 80% do investimento necessário em geotermia envolve capacidades e habilidades que são transferíveis de operações de petróleo e gás existentes.
O investimento total em energia geotérmica poderia alcançar US$ 1 trilhão até 2035 e US$ 2,5 trilhões até 2050. Se a geotermia crescer de forma robusta nos próximos anos, o emprego no setor geotérmico como um todo poderia aumentar seis vezes, atingindo 1 milhão de empregos até 2030, de acordo com o relatório.
O relatório também refere que a geotermia tem um potencial de gerar uma produção anual equivalente à procura atual de eletricidade dos Estados Unidos e da Índia juntos.
Agência Internacional de Energia, Dezembro de 2024
Florestas diversas são 70% mais eficazes como sumidouros de carbono do que as de monocultura
Um estudo, publicado na revista Frontiers in Forests and Global Change, descobriu que as florestas diversas são especialmente eficazes no armazenamento de carbono.
Além destas florestas serem mais resistentes a pragas, doenças e desastres climáticos, o que aumenta seu potencial de armazenamento de carbono a longo prazo, também permitem obter uma maior proteção da água e do solo, e sustentam níveis mais altos de biodiversidade.
O estudo pode ser consultado aqui.
Portugal negligencia impacto das alterações climáticas na saúde. Há falta de preparação para enfrentar novas pandemias
O primeiro Relatório Saúde e Ambiente 2024, produzido pelo Observatório Português da Saúde e Ambiente (OPSA), criado pelo Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), adverte que, embora os fatores ambientais que afetam a saúde humana tenham um impacto cada vez maior, “as políticas de saúde em Portugal continuam quase totalmente divorciadas destas questões”.
O presidente do CPSA, Luís Campos, afirmou que, “apesar de já se saber há duas décadas que, praticamente, há uma ameaça de pandemia por ano e que o surgimento de uma nova é inevitável, além do crescente risco de
catástrofes climáticas, falta resiliência ao sistema de saúde” para responder a novas crises.
Em Portugal, segundo dados de 2021, estima-se que 8% das mortes e 4% do total de anos perdidos por incapacidade estiveram relacionadas com a poluição do ar, temperaturas extremas e outros aspetos ambientais.
Entre 1980 e 2015, houve 5296 mortes prematuras devido ao calor no Alentejo
Embora seja o frio que ainda tenha um efeito mais nefasto na saúde humana, os estudos mostram que o aumento das temperaturas, no contexto das alterações climáticas, terá um peso cada vez maior nas mortes prematuras.
Uma investigação desenvolvida dentro da estratégia regional da adaptação às alterações climáticas no Alentejo revela agora que, entre 1980 e 2015, houve 5296 mortes prematuras devido ao calor, de acordo com o artigo publicado no final de Dezembro na revista científica BMC Public Health.
O excesso de calor pode pôr em risco os grupos da população mais vulneráveis como pessoas acima dos 65 anos e doentes com problemas crónicos a nível cardiovascular, pulmonar e renal, entre outros. A falta de hidratação, a insolação e dias com pequenas amplitudes térmicas, em que durante a noite o corpo não tem a oportunidade de descansar do calor que suportou no resto do dia, são fatores que potenciam o colapso do organismo.
“O que os resultados demonstram é que ao longo do período analisado, 35 anos, o número de mortes atribuíveis ao calor tem vindo a aumentar”, refere Dora Neto, que tem a cátedra da biodiversidade da UE e trabalha em temas ligados à biodiversidade, alterações climáticas e epidemiologia ambiental. Os 5296 óbitos são “à volta de 151 óbitos por ano”
Relatório mostra como o lobby limita a acção contra os “químicos eternos”
A proposta da UE para restringir os PFAS – ou “químicos eternos” – em toda a Europa, que foi originalmente desenvolvida pelas autoridades reguladoras da Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Noruega e Suécia, está a ser seriamente ameaçada pelos lobbies das empresas.
Vicky Cann, investigadora e ativista do Corporate Europe Observatory, afirma que “a indústria está a pressionar fortemente os decisores da UE, em particular a Comissão Europeia, para salvaguardar os seus lucros e os produtos PFAS, mesmo perante provas irrefutáveis dos danos que estes químicos causam à saúde e ao ambiente. É preocupante que o executivo da UE tenha sido recetivo a esta pressão das empresas, o que suscita preocupações de que a Comissão von der Leyen possa vir a dar prioridade às exigências da indústria em detrimento da proteção das pessoas e do planeta”.
O relatório detalha como os principais produtores de PFAS, as suas associações comerciais e aqueles que utilizam PFAS nas suas cadeias de abastecimento – estão a utilizar um conjunto variado de táticas para resistir à proposta de regulamentação da UE sobre PFAS. Estas incluem o lobbying presencial junto dos decisores políticos, a mobilização de aliados da indústria para amplificar a sua agenda, a utilização de investigação financiada pela indústria, o recurso a consultores de lobbying e, em alguns casos, a firmas de advogados…”, indica a Corporate Europe Observatory.
Corporate Europe Observatory, 14/01/2025
Recomendações
Artigo – A Portucel/Navigator e o eucalipto em Moçambique: “O que essa empresa deixa para a população é 0%” – “Além de impactos diretos na vida das comunidades, as monoculturas de eucalipto representam uma desigualdade absurda e obscena. Um grupo de 45 moradores das comunidades com quem conversamos ficou pasmo ao saber que seria necessário que trabalhassem 2300 anos a fio para receber coletivamente, através de seu trabalho, o que a família para a qual trabalham recebeu em um ano, apenas por meio de títulos de uma de suas propriedades”.
Vídeo – Do the math – Este documentário foca-se no trabalho de Bill MacKibben e na crise climática. Bill é um autor, educador, activista e co-fundador da organização 350.org. O documentário de 42 minutos fala sobre o movimento que desafia a indústria dos combustíveis fósseis.