Newsletter Setembro 2024

“Países ricos” lideram expansão global de petróleo e gás

Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações

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“Países ricos” lideram expansão global de petróleo e gás, comprometendo as metas climáticas

A expansão global de petróleo e gás está a ser liderada pelos países mais ricos, como Estados Unidos e Reino Unido, em contradição com seus compromissos climáticos firmados no Acordo de Paris. Em 2024, projeta-se que novos campos de exploração de petróleo e gás contribuam com 11,9 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa, o que equivale às emissões anuais da China.

Este países estão à frente das novas explorações de petróleo e gás: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Noruega, que são responsáveis por dois terços de todas as novas licenças de exploração emitidas desde 2020. Sob o governo Biden, os EUA emitiram um número recorde de novas licenças, superando o governo Trump. Mesmo países que são vistos como exemplo, como a Noruega, têm aumentado a sua exploração de combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, investimentos em novas infraestruturas de petróleo e gás têm alcançado níveis recordes.

A Noruega irá conceder 80 licenças de petróleo e gás este ano, resultando em 771 milhões de toneladas de poluição por gases de efeito estufa — o que ameaça ser a maior contribuição para as emissões globais desde 2009 e equivale a colocar 183 milhões de novos carros movidos a gasolina nas estradas. Os dados mais recentes mostram também que a Rússia será responsável por três quartos das emissões globais resultantes das novas licenças concedidas em junho, de acordo com um novo boletim mensal do IISD (Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável) .

The Guardian, 24/07/2024

A refinaria de Sines continua a liderar, em 2023, o ‘top 10’ de emissores de gases com efeito de estufa em Portugal

No conjunto do ‘top 10’ dos emissores de gases com efeito de estufa, houve uma redução de 14% das emissões de CO2 em 2023, comparativamente a 2022, totalizando cerca de 9,5 milhões de toneladas de CO2 emitidas.

Em 2023, a TAP foi a empresa que mais aumentou as suas emissões de CO2 (15%), passando a ocupar o terceiro lugar do ‘ranking’ (em 2022 estava na sexta posição), com 1,1 milhões de toneladas emitidas.

A central termoelétrica de Lares da EDP registou a quebra mais significativa das emissões, de 50% face ao ano anterior, mas ainda assim manteve-se no nono lugar, com 365,2 mil toneladas de CO2 emitidas.

O ‘top 10’ inclui ainda as cimenteiras Cimpor (Alhandra e Souselas), Secil (Outão) e CMP (Maceira-Liz), as produtoras de energia Turbogás (central da Tapada do Outeiro) e Elecgás (central do Pego) e a produtora de cales Lusical.

ZERO, 30/07/2024

França aumenta compras europeias de gás russo para os níveis mais altos desde o início da guerra na Ucrânia

No primeiro semestre de 2024, a França duplicou o volume de gás que compra à Rússia face a igual período de 2023, atingindo agora 3,2 milhões de toneladas de combustível, 40% do total das importações do Velho Continente.

A França não está a violar qualquer regulamentação europeia ao aumentar as
suas compras de gás russo, uma vez que, até à data, não existe proibição de compra deste tipo de recurso energético russo.

A Europa aumentou ligeiramente as importações de gás russo. As compras europeias de gás russo são agora quase iguais às importadas dos EUA.

Euronews, 06/08/2024

Galp assina contrato de compra de gás natural com empresa americana Cheniere, que causa vários impactos negativos a populações locais

A Galp assinou um acordo de compra e venda com a norte-americana Cheniere Marketing para aceder ao fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) produzido nos Estados Unidos. O contrato prevê o acesso a GNL norte-americano, incluindo o fornecimento de 500 mil toneladas por ano, durante 20 anos, sujeito a uma decisão final de investimento ainda a ser tomada em relação ao segundo terminal do projeto de expansão da unidade de Sabine Pass, na Louisiana.

Esta empresa tem vindo a ser alvo de críticas pois os seus impactos negativos em comunidades locais têm vindo a ser reportados, como podes ler nesta reportagem do Investigate Europe.

Jornal de Negócios, 05/08/2024

Julgamento de antigo presidente da Volkswagen por manipulação de emissões, começa após nove anos

O julgamento do caso conhecido como “dieselgate” começou, após nove anos e vários atrasos. O Tribunal Regional de Braunschweig decidiu julgar o gestor da Volkswagen num processo que reúne três acusações diferentes, nomeadamente fraude comercial, falso testemunho e manipulação de mercado.

A primeira das acusações está relacionada com suspeitas de que os clientes foram defraudados relativamente ao desempenho dos seus veículos, que, contrariamente aos anúncios, apenas cumpriam os limites de emissões quando testados.

Esta alegada fraude abrangeu cerca de nove milhões de veículos vendidos na Europa e nos Estados Unidos entre 2006 e 2015.

ECO, 03/09/2024

“Países ricos” reprimem protestos climáticos enquanto pregam sobre direitos em outros países, aponta estudo

Um relatório da Climate Rights International revela que países como Austrália, Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, estão a adoptar medidas severas e punitivas contra protestos climáticos. Essas ações incluem sentenças de prisão longas, detenções preventivas e assédio, em violação aos direitos básicos de liberdade de expressão e associação.

O relatório destaca como esses governos promovem internacionalmente o direito ao protesto, mas, internamente, reprimem manifestantes pacíficos, rotulando-os como “ecoterroristas” ou “vândalos”. Ativistas climáticos que buscam chamar a atenção para a crise ecológica têm sido duramente tratados, apesar de suas ações não violentas.

The Guardian, 10/09/2024

Europa

As cheias na Europa provocaram vítimas mortais e estragos na Roménia, Polónia, Áustria, República Checa, Hungria, entre outros países e regiões.

América

No México, pelo menos 22 pessoas morreram na sequência da tempestade John.

Nos Estados Unidos, Pelo menos 64 pessoas foram confirmadas mortas e quase 3,5 milhões ficaram sem energia em consequência do furacão Helene.

Ásia

A cidade de Xangai, na China, foi atingida pelo tufão mais intenso em 75 anos obrigando à evacuação de mais de 400.000 pessoas. Registaram-se cheias e ventos intensos de 150km/h. 

Estudo demonstra que riscos de diabetes, demência e hipertensão aumentam com proximidade ao aeroporto

Um estudo europeu mostra que, pela sua localização, o aeroporto de Lisboa é o caso mais complicado na Europa. O estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente mostra que as 414 mil pessoas que vivem a uma distância de cinco quilómetros do aeroporto de Lisboa têm maior risco de contrair doenças como diabetes, demência e hipertensão.

Os cálculos apontam para que as partículas ultrafinas emitidas na zona do aeroporto de Lisboa possam ter causado 15.473 casos de hipertensão, 18.615 casos de diabetes e 1.837 casos de demência, afetando 9% da população que aí vive. Afirma-se que o risco de demência desta pessoas é de 20%, o de diabetes de 12%, o de hipertensão de 7%. O estudo também refere que as contas podem estar a ser feitas por baixo.

Há 15 anos que a Organização Mundial de Saúde alerta para os efeitos destas partículas. Este ano a União Europeia aprovou um limite à emissão deste tipo de partículas mas esse limite fica abaixo das recomendações da OMS. 

Transportenvironment.org, 25/06/2024

Produtores de energia não estão a abandonar combustíveis fósseis com rapidez necessária

De acordo com uma análise de documentos das empresas energéticas Enel (italiana), Engie (francesa), EPH (checa), Iberdrola (espanhola) e Statkraft (norueguesa), estas “não planeiam parar gradualmente de
produzir eletricidade a partir de gás fóssil até 2035, conforme recomendado pela Agência Internacional de Energia (AIE) e o Painel
Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC)”, alerta, num relatório, a coligação de associações Beyond Fossil Fuels.

A Enel, a Engie e a EPH, em particular, “continuam a ser importantes promotoras de centrais elétricas a gás fóssil”.

Beyondfossilfuels.org, 25/06/2024

Direito de manifestação está sob ataque na Europa, diz Amnistia

No seu relatório sobre o estado do direito ao protesto em 21 países europeus, a Amnistia Internacional destaca a tendência para uma crescente criminalização e repressão de protestos pacíficos.

O relatório da Amnistia realça que na Europa as leis repressivas, uso desnecessário de força excessiva, prisões arbitrárias e acusações judiciais, cada vez mais restrições e recurso às tecnologias de vigilância invasivas da privacidade estão a aumentar.

No que diz respeito ao uso excessivo da força por parte da polícia contra manifestantes, causando dentes e ossos partidos, amputações ou perda de olhos, a Amnistia Internacional destaca a ação policial em França, Espanha, Itália e Grécia. Países a que se juntam a Bélgica, Finlândia, Polónia, Eslovénia, Sérvia e Suíça, em que o uso da força corresponde a tortura, incluindo contra menores. Portugal, Turquia e Reino Unido juntam-se também à lista graças aos casos identificados de impunidade policial.

Amnistia Internacional, 08/07/2024

Europa tem área suficiente para produção de energia renovável sem comprometer a agricultura e a natureza

Um novo relatório da European Environmental Bureau (EEB) revela que a Europa tem terra suficiente para expandir a energia solar e eólica sem comprometer a produção de alimentos ou a natureza. O estudo mostra que apenas metade das terras consideradas adequadas para energias renováveis — excluindo reservas naturais e áreas agrícolas de alto valor — é utilizada.

O relatório revela que apenas 2,2% das terras totais da União Europeia (UE) serão necessárias para projetos solares e eólicos, tanto atuais quanto futuros, permitindo que a UE elimine gradualmente combustíveis fósseis e energia nuclear, atingindo a neutralidade climática até 2040.

Aproximadamente 78% das terras adequadas para a energia solar em solo e 83% para a energia eólica terrestre estão localizadas em áreas rurais. No entanto, as áreas urbanas e industriais não conseguem, sozinhas, suprir toda a capacidade necessária para a expansão da energia solar. Há, no entanto, disponibilidade de terras agrícolas degradadas que podem ser utilizadas para aumentar a produção de energia solar sem prejudicar a economia rural, promovendo sinergia com a produção de alimentos e a restauração da saúde do solo.

European Environmental Bureau, 24/07/2024

Em 2023 uma em cada 11 pessoas passou fome e as alterações climáticas são uma das causas

No ano passado, uma em cada 11 pessoas no mundo enfrentou a fome, enquanto um terço da população global teve dificuldades para pagar por uma dieta saudável. Estses números mostram que o objetivo de erradicar a fome, estabelecido em 2015, está longe de ser alcançado, com o progresso global nessa área a retroceder. Segundo um relatório da ONU, a fome e a insegurança alimentar estão cada vez mais conectadas com os impactos das alterações climáticas, deixando de ser apenas indicadores de saúde pública para se tornarem sintomas de um mundo em aquecimento.

A crise alimentar global é agravada pelas alterações climáticas, que afetam a produção de alimentos e as cadeias de produção e distribuição devido a eventos climáticos extremos, como secas, além de favorecer a disseminação de doenças e pragas que prejudicam a produção agrícola.

Grist.org, 29/07/2024

O calor extremo causou quase 50.000 mortes na Europa no ano passado

Mais de 47.000 pessoas morreram na Europa no ano passado devido ao calor extremo, de acordo com um novo relatório.

A Grécia registou cerca de 393 mortes relacionadas com o calor por milhão de habitantes, seguida pela Bulgária com 229 mortes, Itália com 209 mortes e Espanha com 175 mortes. Em comparação, a Alemanha viu cerca de 76 mortes por milhão de habitantes.

O relatório também mostra que algumas medidas que foram tomadas ajudaram a reduzir em 80% o número de mortes. O estudo descobriu que a temperatura com menor risco de mortalidade aumentou gradualmente de 15 graus Celsius (59 graus Fahrenheit) no período de 2000-2004, para 17,7 graus Celsius (63,86 graus Fahrenheit) no período 2015-2019.

DW, 13/08/2024

ArtigoGasoduto para o genocídio – na rota de petróleo da BP para Israel – Reportagem do Transnational Institute sobre como as cadeias globais de fornecimento de energia alimentam o genocídio na Palestina.

PodcastEmpatia radical – Episódio sobre a vaga de repressão judicial ao ativismo climático, a história e a teoria da desobediência civil e sobre a forma como a criminalização tem estado sempre presente em todos os movimentos progressistas do passado.

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