Newsletter Junho 2024

Notícias, resumos de estudos, eventos extremos recentes, ativismo climático e recomendações

Olá! Trazemos-te mais um resumo de notícias, estudos e eventos extremos do último mês. Aqui vais encontrar informação sobre financiamento climático, consequências das alterações climáticas em grupos marginalizados e greenwashing, mas queremos começar por destacar estes resultados. Os dados mostram-nos que o dióxido de carbono está a acumular-se à velocidade mais rápida de sempre e a níveis nunca experienciados por humanos. 
É urgente lutar por justiça climática. 
Até breve,
João e Carolina

Nota: Todas as palavras sublinhadas são links externos, fontes de notícias, estudos, ou outras referências.

Um programa destinado a ajudar os países em desenvolvimento a combater as alterações climáticas está a canalizar milhares de milhões de dólares para os países ricos

Nos últimos anos, países ricos têm enviado financiamento climático aos países em desenvolvimento com taxas de juros ou condições que beneficiam esses mesmos países ricos, segundo análise da Reuters. Japão, França, Alemanha, Estados Unidos e outros países ricos estão a lucrar biliões de dólares com um programa global destinado a ajudar os países do sul global a lidar com os efeitos das alterações climáticas. Esta prática contradiz o conceito de que os países ricos devem compensar os mais pobres pelas emissões que fizeram.

Os países ricos emprestaram pelo menos 18 biliões de dólares a taxas de juros de mercado, com o Japão, França, Alemanha e Estados Unidos entre os maiores credores. Além disso, outros 11 biliões de dólares em empréstimos exigiram que os países que receberam esses empréstimos contratassem ou comprassem materiais de empresas dos países credores. Tal prática implica que o dinheiro destinado aos países mais pobres acaba por ser redirecionado de volta aos países ricos.

Reuters, 22/05/2024

As mulheres têm 14 vezes mais probabilidades de morrer numa catástrofe climática do que os homens

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dois mil milhões de pessoas carecem de água potável e 37% das mortes relacionadas com o calor são causadas pelas alterações climáticas. As mulheres são 14 vezes mais propensas a morrer em desastres relacionados ao clima do que homens e representam 80% dos deslocados por eventos climáticos extremos. Isso ocorre devido a desvantagens sociais e económicas pré-existentes e responsabilidades adicionais de cuidar de grupos vulneráveis.

Além disso, uma meta-análise de 130 estudos revelou que 68% mostraram que as mulheres são mais impactadas por problemas de saúde ligados ao clima do que os homens, especialmente em termos de saúde materna.

Relief Web, 29/05/2024

Vermont, América do Norte torna-se o primeiro estado a aprovar uma lei que exige que as empresas petrolíferas paguem pelos danos causados ​​pelas alterações climáticas

Esta decisão veio após o estado sofrer inundações catastróficas no verão e danos por outros eventos climáticos extremos.

Os fundos arrecadados poderão ser usados para melhorias em sistemas de drenagem de águas pluviais, infraestrutura de transporte e modernizações de eficiência energética em edifícios públicos e privados.

As empresas de combustíveis fósseis sabem pelo menos desde a década de 70 que o seu negócio iria causar o aquecimento global, optando por investir em campanhas negacionistas das alterações climáticas. 

Associated Press, 31/05/2024

Os países ricos atingiram o objectivo de financiamento climático de 100 mil milhões de dólares ao “renomearem a ajuda existente”

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) afirma que esses países arrecadaram US$ 115,9 biliões para projetos relacionados com o clima. No entanto, a análise do Center for Global Development (CGD) indica que cerca de US$ 27 biliões do aumento anual de US$ 94,2 biliões vieram de ajuda ao desenvolvimento já existente.

Como podes ler numa das notícias anteriores, a maior parte do financiamento público climático foi fornecida na forma de empréstimos, o que não é uma grande ajuda,  pois estes mecanismos deveriam servir como uma forma de compensação pelas emissões históricas.


Carbon Brief, 31/05/2024

Azerbaijão acusado de repressão a jornalistas antes de receber a COP29

Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch, documentaram pelo menos 25 casos de prisão ou condenação de jornalistas e ativistas ao longo do último ano, a maioria dos quais permanece sob custódia.

O Azerbeijão, país produtor de combustíveis fósseis, está classificado como um dos países mais corruptos do mundo e vai receber a COP29. Os combustíveis fósseis representam 90% das exportações deste país

The Guardian, 12/06/2024

A Agência Internacional de Energia alerta para crescente impacto ambiental dos veículos SUV

Os veículos SUV (Sports Utility Vehicle) foram responsáveis por mais de um quarto do aumento da procura mundial de petróleo em 2022 e 2023, e só no ano passado geraram mil milhões de toneladas de CO2.

O documento recorda que os SUV pesam, em média, entre 200 e 399 quilos mais do que um automóvel de passageiros equivalente. Isto explica por que razão, em 2022 e 2023, o consumo mundial de petróleo diretamente relacionado com os SUV aumentou em cerca de 600.000 barris por dia, o que representa mais de um quarto do aumento da procura mundial de petróleo.

Os 360 milhões de SUV em todo o mundo no final de 2023 emitiram mil milhões de toneladas de CO2 durante esse ano. Se fossem um país, seriam o quinto maior emissor do mundo.

Agência Internacional de Energia, 28/05/2024

Ásia

A Índia continua a atravessar a pior onda de calor de sempre, com temperaturas a chegar aos 45º C. No início de junho, 33 funcionários públicos morreram devido ao calor no último dia das eleições.

África

Na Argélia, após meses de seca e escassez de água, têm ocorrido motins que protestam o racionamento da água.

América

No Brasil, a seca tem sido tão severa que os incêndios aumentaram 10 vezes relativamente ao ano anterior na região do Pantanal, usualmente uma região alagada.

Foi declarado estado de catástrofe em várias regiões do Chile após chuvas fortes terem provocado cheias que destruíram mais de 2000 casas.

Europa

Cinco pessoas morreram e milhares foram evacuadas no sul da Alemanha depois de fortes chuvas atingirem a região e causarem grandes inundações. O aumento do caudal do Danúbio devido às chuvas intensas afetou também a Áustria e a Hungria.

Este evento levou altos funcionários a alertar de que a crise climática iria agravar condições meteorológicas extremas no país.

Também na região de Múrcia, em Espanha, após chuvas intensas registaram-se cheias e deslizamentos de terras que provocaram vários danos.

Empresas de petróleo e gás falham nos objectivos climáticos

O relatório “Big Oil Reality Check”, divulgado pela Oil Change International em colaboração com mais de 200 organizações, analisou os compromissos climáticos de oito grandes empresas de petróleo e gás, incluindo a Chevron, ExxonMobil, Shell e outras. Conclui-se que nenhuma dessas empresas está alinhada com os acordos internacionais para eliminar os combustíveis fósseis e limitar o aquecimento global a 1,5°C. A maioria das empresas recebeu classificações de “Grossamente Insuficiente” ou “Insuficiente” em uma série de critérios cruciais.

O relatório revelou que as operações atuais de extração de petróleo e gás dessas empresas estão em linha com um aumento da temperatura global superior a 2,4°C. Além de falharem na redução consistente das emissões, as empresas não apresentaram planos adequados para uma transição justa para trabalhadores e comunidades afetadas.

Só estas 8 empresas têm planos para utilziar 30% do nosso orçamento de carbono restante para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e 6 delas têm planos para aumentar a produção de combustíveis fósseis.

Oil Change International, 21/05/2024

Estudo revela injustiça climática na Europa: comunidades racializadas desproporcionalmente afetadas

Um projeto de pesquisa inovador intitulado “What’s Race Got To Do With It? Climate Injustice in Europe Uncovered” lançou luz sobre as profundas disparidades enfrentadas por comunidades racializadas na Europa Ocidental diante da crise climática. Pela primeira vez, este estudo abrangente revela a interseção entre a crise climática e a desigualdade racial com base em pesquisa académica revista por pares.

Os resultados mostram que comunidades racializadas são desproporcionalmente vulneráveis aos efeitos adversos das alterações climáticas devido a injustiças históricas e políticas que falham em abordar suas necessidades básicas.

O relatório também desmente o mito de que comunidades racializadas não se preocupam com o clima, mostrando que quase 80% dos entrevistados consideram as alterações climáticas uma questão importante. No entanto, essas comunidades enfrentam exclusão, estigmatização e falta de representação nas políticas climáticas.

Union of Justice, Junho de 2024

Os principais bancos do mundo fazem greenwashing em relação ao seu papel na destruição da Amazónia

Um relatório acusa cinco dos maiores bancos do mundo de “greenwashing” em relação à destruição da Amazónia, indicando que as suas diretrizes ambientais e sociais não cobrem mais de 70% da floresta. Essas instituições são acusadas de financiar biliões de dólares para empresas de petróleo e gás envolvidas em projetos que impactam a Amazónia, afetando o clima e prejudicando terras e meios de subsistência de povos indígenas.

Embora os bancos afirmem seguir políticas éticas para proteger florestas intactas, hotspots de biodiversidade, territórios indígenas e reservas naturais, a investigação encontrou limitações geográficas e técnicas que dificultam a monitorização e a realização desses objetivos.

O relatório, produzido pela organização Stand.earth e pela Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica (COICA), mapeou o alcance dos compromissos dos cinco principais bancos que financiam empresas de combustíveis fósseis na Amazónia.

StandEarth, Junho de 2024

A expansão do gás natural liquefeito (GNL) é uma ameaça aos ecossistemas costeiros e marinhos

Nos últimos anos, houve um significativo aumento na infraestrutura e uso de gás natural liquefeito (GNL) a nível global. Esta expansão está focada em áreas marinhas sensíveis e diversas, que abrigam espécies icónicas como baleias, golfinhos e tartarugas, além de serem fundamentais para comunidades locais.

O desenvolvimento de terminais de GNL ao longo da Costa do Golfo nos Estados Unidos, no México, representa ameaças diretas a comunidades racializadas e ecossistemas marinhos. Estas comunidades já sofrem com a má qualidade do ar devido às instalações de GNL e são frequentemente afetadas por furacões intensificados pelas alterações climáticas.

No México, a construção de oito novos terminais de GNL numa região reconhecida pela UNESCO como santuário de baleias e mamíferos marinhos pode comprometer ainda mais a biodiversidade local.

O GNL é apenas mais um combustível fóssil e não é um combustível de transição, como lhe chamam.

Earth Insight, Junho de 2024

Apenas quatro indústrias causam 2,7 milhões de mortes na Europa todos os anos

Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca como as grandes indústrias estão a impulsionar doenças crónicas e estão a obstruir políticas de saúde, especialmente na Europa e Ásia Central. O documento identifica indústrias poderosas, como o tabaco, alimentos ultraprocessados, combustíveis fósseis e álcool, como responsáveis por 2,7 milhões de mortes anualmente na Europa.

O relatório revela táticas utilizadas por essas indústrias para maximizar lucros e minar a saúde pública, incluindo lobby político, desinformação na impensa e estratégias de marketing direcionadas. Estas práticas não só perpetuam desigualdades sociais e de saúde, mas também impedem a implementação de políticas de prevenção eficazes.

Em todo o mundo, cerca de 19 milhões de mortes por ano são atribuídas a estas empresas, que representam 34% de todas as mortes

Organização Mundial da Saúde, 12/06/2024

A rápida implementação de energias renováveis torna a energia mais barata e não mais cara

Um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) destaca a urgência de acelerar a transição para energias renováveis para tornar a energia mais acessível e sustentável globalmente. O relatório enfatiza que investimentos adicionais em energia limpa reduzem significativamente os custos operacionais do sistema energético global em comparação com trajetórias baseadas nas políticas atuais, resultando em um sistema energético mais acessível e justo para os consumidores.

O relatório da IEA propõe uma série de medidas que os governos podem adotar para tornar as energias renováveis mais acessíveis, incluindo programas de eficiência energética para lares de comunidades historicamente excluídas, incentivos para transporte público e mercados de veículos elétricos usados, substituição de subsídios a combustíveis fósseis por transferências em dinheiro para os mais vulneráveis, e uso de receitas de preços de carbono para mitigar desigualdades sociais durante as transições energéticas.

Agência Internacional de Energia, 30/05/2024

Livro “Portugal em Chamas” – como resgatar as florestas de João Camargo e Paulo Pimenta de Castro – A Epidemia de Eucaliptos, o Círculo Vicioso dos Incêndios, os efeitos das Alterações Climáticas e o futuro próximo.

Vídeo – Consequências da extração de gás convencional em Groningen – Vídeo de 15 minutos que explora as consequências locais da exploração de gás fóssil, em Groningen, nos Países Baixos.

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